Por Virginia Messina(dietista) , co-autora dos livros Vegan for Life, Vegan for Her e Never Too Late to Go Vegan, entre outros)
Embora os regimes alimentares baseados no consumo de produtos de origem vegetal estejam a ganhar uma súbita popularidade, ainda estão fora da corrente dominante; não é de admirar que exista tanta falta de informação sobre o que acontece quando se deixa de consumir carne, ovos e lacticínios. Infelizmente, muitos dos mitos sobre estes regimes alimentares podem desencorajar as pessoas de experimentarem o veganismo, especialmente se tiverem receio de que os regimes alimentares baseados em produtos de origem vegetal não tenham o aporte nutricional suficiente ou que sejam pouco apelativos ou restritivos. Aqui estão cinco pontos com os quais ninguém se deveria preocupar quando começa a ter uma alimentação vegana.
Mito nº1: Quando se tornar vegano irá sentir-se péssimo no início, pois o seu corpo estará a desintoxicar-se.
Facto: Não interessa o que come; o seu corpo está constantemente a produzir compostos nocivos e a trabalhar arduamente para os neutralizar ou excretar. Sistemas complexos que envolvem o fígado, rins e outros órgãos fazem parte de um sistema de desintoxicação muito eficiente que opera continuamente, tanto em veganos como em pessoas que comem carne. Apesar de uma alimentação saudável poder ajudar esses sistemas a funcionar no auge da sua performance, não existe uma verdadeira dieta ou regime “desintoxicante”. Você não irá começar a expelir grandes quantidades de substâncias tóxicas quando se tornar vegano. Desde que esteja a seguir um regime alimentar equilibrado baseado em alimentos vegetais integrais, irá sentir-se perfeitamente bem desde o primeiro dia da sua experiência vegana.
Mito nº2: Os alimentos de origem vegetal são incompletos, pois faltam-lhes aminoácidos essenciais.
Facto: Todos os alimentos de origem vegetal que tenham proteína – o que inclui todos os tipos de cereais, leguminosas, soja, frutos oleaginosos, sementes e vegetais— contêm todos os aminoácidos essenciais. Com excepção dos alimentos de soja, todos os outros são um pouco baixos em um ou dois destes aminoácidos, mas isso não importa realmente. Ingerir uma quantidade variada de produtos de origem vegetal que inclua algumas porções de leguminosas por dia—não é necessária nenhuma combinação especial de alimentos às refeições—fornece a quantidade necessária de aminoácidos essenciais para a nossa saúde.
Mito nº3: Os regimes alimentares veganos são baixos em gorduras.
Facto: Os regimes alimentares veganos são um pouco mais baixos em gorduras do que os regimes alimentares seguidos pelos americanos típicos, mas não muito mais. A perspectiva dos especialistas relativamente à gordura tem-se alterado nas últimas duas décadas e agora os nutricionistas reconhecem que um consumo demasiado baixo de gorduras não é necessário para se ser saudável. O tipo de gordura presente nos alimentos que consome tem muito maior relevância do que a quantidade. E tendo em conta que a gordura presente nos alimentos que compõem uma alimentação vegana são do tipo de gordura saudável e não saturada, os veganos não necessitam de preocupar-se relativamente a alimentos com mais gordura, como frutos oleaginosos, sementes, alimentos feitos à base de soja, abacate e azeitonas. Até os óleos vegetais se enquadram num plano alimentar vegano saudável. A maioria dos veganos gosta de temperar as saladas, de manteigas de frutos oleaginosos [como a manteiga de amendoim], de vegetais cozinhados em azeite, de tofu, de húmus e, por vezes, de “carnes” e “queijos” de origem vegetal — tudo alimentos que fornecem os benefícios culinários da gordura sem os riscos para a saúde.
Mito nº4: Os regimes alimentares veganos são aborrecidos e restritivos.
Facto: É verdade que os veganos retiram categorias inteiras de alimentos da sua dieta e por isso, sim, têm menos escolhas alimentares. Mas a realidade é que muitas pessoas acabam por ter uma alimentação mais variada depois de começarem a explorar as opções veganas. Se não se tivessem tornado veganas, talvez nunca tivessem vindo a experimentar pizza de vegetais assados, tempeh grelhado com molho de amendoim picante, seitan assado no espeto ou crumble de fruta com cobertura de creme de caju. Os veganos comem hambúrgueres [vegetarianos] e batatas fritas, vegetais grelhados, caril picante, salteados asiáticos, sushi de vegetais, macarrão com queijo [vegetal] e massa com pesto de tomate seco. Bebem vinho, cerveja e chocolate quente, petiscam tortilhas de milho mergulhadas em molho, pipocas e batatas fritas. As sobremesas veganas incluem opulentos bolos de chocolate, donuts e gelado feito de leite de coco, por exemplo. Há também óptimos livros de receitas para todos os estilos de alimentação vegana, incluindo livros totalmente dedicados a bolachas veganas, festas veganas, churrascos veganos e hambúrgueres veganos. Insira a expressão “receita vegana” num motor de busca na Internet e verá que os regimes alimentares veganos são o contrário de aborrecidos.
Mito nº5: A dieta vegana requer suplementos de vitamina B12, por isso, não é uma dieta natural para os humanos.
Facto: Quem sabe qual é a dieta “natural” dos humanos — ou se isso sequer existe? À medida que os humanos foram evoluindo, também os seus hábitos alimentares o foram, com base naquilo que se encontrava disponível, na genética e no clima. A simples deslocação à volta do Mundo, alterou as dietas e as necessidades dietéticas. Por exemplo, os nossos antepassados costumavam obter toda a sua vitamina D a partir da exposição solar. Hoje em dia, muitas vezes, as populações que vivem longe do Equador necessitam de suplementos ou alimentos enriquecidos para obterem vitamina D em quantidades suficientes. Não importa se esta é a forma como evoluímos para obter a vitamina D. Tendo em conta o largo espectro de hábitos alimentares que existem no Mundo, e a evolução das opções alimentares, não é provável que exista um único regime alimentar “natural”. Os veganos também não são os únicos que necessitam de suplementar a vitamina B12. O Instituto de Medicina— a ent
idade que estabelece as recomendações nutricionais para os americanos— diz que todas as pessoas acima dos 50 anos deveriam tomar suplementos de vitamina B12, uma vez que muitas pessoas mais velhas não conseguem absorver bem esta vitamina dos alimentos de origem animal. Em vez de nos preocuparmos com o que é “natural”— uma questão a que é impossível responder-se — deveríamos focar-nos em escolher um regime alimentar que garante a saúde e as necessidades nutricionais humanas ao mesmo tempo que prejudica o menos possível. Uma alimentação vegana suplementada com vitamina B12 é a que faz mais sentido nos dias de hoje.
Tradução: Inês Grilo
Artigo traduzido com a permissão da autora.
Original: http://www.onegreenplanet.org/foodandhealth/the-top-5-vegan-diet-myths-debunked/
Nota: Todos os pratos que aparecem na imagem são veganos.