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Eles não são coisas, são alguém: a verdade sobre gatos e galinhas

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Por 
Bruce Friedrich (activista pelos direitos humanos e dos animais desde 1982, e co-autor do livro The Animal Activist’s Handbook)

A maioria dos americanos acredita que cães e gatos são indivíduos com personalidade própria – são alguém, não coisas. No Farm Sanctuary (Santuário dos Animais), proporcionamos cuidados e uma vida digna, a mais de 1000 galinhas, porcos, vacas, entre outros animais de quinta que foram mal tratados ou negligenciados. Vamos então começar por ver como estes animais também têm personalidade, interesses e individualidade – que são alguém, não coisas.

Mas não é só a individualidade que caracteriza os animais de quinta. Nos últimos anos, estudos científicos têm revelado que os porcos e as galinhas superam cães e gatos em testes cognitivos. Na introdução do livro pioneiro ‘The Inner World of Farm Animals’, a Dra. Jane Goodall resume a ciência do comportamento, cognição e emoção dos animais de quinta: “Os animais de quinta sentem alegria e tristeza, euforia e aborrecimento, depressão, medo e dor. São muito mais conscientes e inteligentes do alguma vez pudemos imaginar…são indivíduos com direitos próprios”. Como refere, acertadamente, Richard Dawkins, da mesma forma que o ser humano passou por um processo evolutivo, os animais também passaram, logo estes têm emoções, consciência e cognição de igual maneira que nós.      

A Dra. Temple Grandin, em ‘Animals in Translation’, escreve o seguinte: “No que toca aos princípios básicos de vida… [os outros] animais sentem o mesmo que nós”. Ela prossegue explicando que tanto os humanos como os animais compartilham as mesmas emoções primárias (“irritação, predação, medo e curiosidade/interesses/antecipação”) e quatro emoções sociais básicas: atracção e desejo sexual, angústia de separação, apego social, e emoções de felicidade por brincarem e fazerem algazarra”.

Poderíamos ter-vos contado que, das nossas quintas, as galinhas, os perús, os porcos e todos os animais de quinta adoram brincar e fazer algazarra, gostam da companhia uns dos outros e sentem-se angustiados quando um bom amigo se ausenta por um dia para ir ao veterinário e lamentam a perda dos que amam, da mesma forma que fazem elefantes – como foi descrito comoventemente no livro “Quando os Elefantes Choram” dos autores Jeff Masson e Susan McCarthy. (Edição Portuguesa da editora “Sinais de Fogo”)

Um dos residentes do Santuário que nos ensinou que os animais têm personalidade foi a Nikki, uma mãe porca encontrada num dique durante as cheias no Iowa, exausta e emaciada, amamentando as suas crias recém-nascidas e soltando grunhidos de alarme quando as equipas de salvamento se aproximavam. Nikki e os seus filhos ficaram juntos no Santuário e todas as noites preparava o leito para eles dormirem. Ainda hoje, Nikki e os seus filhos mantêm um relacionamento que qualquer mãe ou filha reconheceria: autoridade e amizade. Continua uma porca gregária e feliz que adora socializar – e que dá as boas vindas a todos os visitantes com a sua voz alta. Uma coisa que os visitantes do Santuário aprendem de imediato é que a Nikki mantém-se extremamente protectora dos seus filhotes, o que é de esperar de alguém que viveu uma experiência traumática tão cedo com eles.

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Outro exemplo é June, que nos chegou de Nova Iorque após uma apreensão de galos para luta. Quando acolhemos a June ela só sabia o que era crueldade e estava acostumada às tentativas frustradas de salvar os seus bebés e os das outras galinhas do ringue de luta para galos. Durante meses, após a sua chegada ao Santuário, sempre que um tratador entrava no celeiro onde June passava as suas noites, os seus pintainhos não estavam à vista. Mas assim que as suas cabeças apareciam debaixo das asas ou da cauda, June apressava-se a esconde-los por baixo de si – mesmo quando eram demasiado grandes para ficarem escondidos – as penas à volta do pescoço avolumavam-se e bicava quem quer que fosse pegar neles. Ela nunca esqueceu os abusos dos seres humanos e a dor da separação. Até a sua morte, passados anos no Santuário, June manteve os filhotes sempre por perto.

Esta é a June:

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Uma coisa interessante acerca da ciência dos animais da quinta é que até há poucos anos, a suposição frequente era a de que os animais não tinham capacidade para fazer o que estava a ser testado. Cada vez mais os animais foram provando o contrário. Hoje em dia compreendemos que os animas podem antecipar o futuro, prolongar a satisfação, sonhar, brincar, comunicar uns com os outros de forma complexa e muito mais coisas. Tal como afirma a Dra. Grandin, “nós não sabemos do que os animais são ou não capazes de fazer. O facto de ficarmos constantemente admirados com as novas habilidades que ninguém imaginava que os animas possuem deve ser uma lição sobre o quão não sabemos”

Portanto, se te consideras alguém que se preocupa com os animais, por favor não os comas. Se não comerias um gato, não comas uma galinha. Se não comerias um cão, não comas um porco. Os animais de quinta são tão ou mais inteligentes do que outros animais e são seres interessantes, com direito próprio. Eles são alguém, não coisas.

Descobre mais acerca da habilidade dos porcos para brincar com “vídeo jogos” e usar espelhos, da capacidade das galinhas em prolongar a satisfação e correr numa pista de obstáculos, da experiência “Eureka” das vacas após resolverem problemas e profundos laços sociais e muito mais em http://www.farmsanctuary.org/learn/someone-not-something/

Tradução: Renato Miguel Lourenço
Artigo traduzido com permissão do autor
Original: http://www.huffingtonpost.com/bruce-friedrich/someone-not-something_b_1570851.html

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