A mudança normalmente é acompanhada por dúvidas, e a transição para uma alimentação vegetariana não é diferente. Se começaste esta jornada provavelmente já levaste com muitas perguntas e olhares curiosos. Se estás do lado de fora, também é normal desejares perceber melhor porque motivo as pessoas estão a mudar a sua alimentação.
Neste texto vamos tirar as tuas dúvidas, esmiuçando alguns mitos sobre a alimentação vegetariana.
1.“Vegetarianos só comem legumes”
Este é provavelmente o mito mais comum à volta desta alimentação. A típica alimentação portuguesa (e outras) baseia a maior parte dos pratos em “carne/peixe e acompanhamento”, daí ser facilmente presumível que ao retirarmos o elemento principal, vamos comer apenas legumes, ou “nada de jeito”, como se costuma dizer.
No entanto, a alimentação vegetariana acaba por ser até muito mais variada do que uma alimentação tradicional. Desde frutas a legumes, leguminosas, cereais, sementes… A verdade é que acabamos por reinventar o conceito de “elemento principal”, e criamos pratos super diferentes; por outro lado, também conseguimos facilmente recriar adaptações desses pratos tradicionais” com as alternativas vegetais que encontramos já facilmente no mercado, seja as almôndegas, frango, filetes de pescada, etc, com um sabor bastante semelhante.
2. “E a proteína?”
Esta é uma dúvida que é tão ouvida quanto o vegetarianismo tem crescido. De facto, a típica Roda dos Alimentos leva-nos a crer que o grupo da Carne, Leite e Ovos é o único grupo capaz de nos fornecer proteína. Mas vejamos dois aspectos relevantes:
- Todos os animais que o Homem se habituou a consumir são herbívoros ou alimentam-se de outros animais herbívoros. Ou seja, eles próprios conseguem a sua proteína proveniente das plantas.
- Posto isto, é claro que os produtos animais podem dar-nos proteína. Mas há vários outros alimentos de origem vegetal com teor igual ou ainda mais alto de proteína: feijão, quinoa, espinafre, grão-de-bico, lentilhas, ervilhas, spirulina, couve-flor, couve de bruxelas, abóbora, brócolos, amêndoas, milho, espargos, cogumelos, amendoins, avelãs, etc… Comparemos por exemplo a proteína existente na carne de vaca com feijão preto: em cada 100 gramas, a carne de vaca tem 14 gramas de proteína, enquanto o feijão preto tem 21 gramas.
3. “Os vegetarianos não comem o suficiente, ficam com fome e sem força, não podem praticar exercício de alta intensidade”
Este é um mito que advém da suposta falta de proteína, e da ideia de que o que nos dá força é a carne. Porém, podemos constatar já desde há milhares de anos que isto não é propriamente verdade. Neste estudo publicado pelo Instituto Nacional da Saúde da Livraria Nacional Americana de Medicina, podemos ver como já os gladiadores Romanos eram vegetarianos, por reconhecerem as vantagens desta alimentação para o alto rendimento, entre elas:
- Maior resistência ao cansaço
- O consumo de mais carboidratos fornece mais energia, e estes são mais facilmente digeríveis pelo nosso organismo do que os produtos animais, sendo assim mais fácil restaurar as reservas de energia do organismo.
Se não acreditas ainda, vejamos o caso de vários atletas vegan, como é o caso de Patrik Baboumiam, detentor do título de “homem mais forte da Alemanha”. Num depoimento para o documentário The Game Changers, ele conta como uma vez lhe perguntaram “Como é que consegues ser tão forte como um touro se não comes carne?”, ao que ele respondeu “alguma vez viste um touro a comer carne?”
4. “Se fores vegetariano vais perder peso”
Como a alimentação vegetariana é normalmente associada ao termo “saudável”, é frequente ouvirmos este tipo de mito.
Vamos por partes: por um lado o vegetarianismo é muitas vezes adoptado por pessoas que se preocupam com o seu corpo, e praticam também outros hábitos saudáveis como exercício físico, uma alimentação variada, etc., controlando assim o seu peso. Porém, por outro lado, também é verdade que existe uma grande oferta de imensos processados e junk food vegetariana.
Ou seja, perder peso nada tem que ver com o vegetarianismo em si, mas com o estilo de vida que a pessoa escolhe viver.
5. “Ao seres vegetariano, eventualmente vais ficar doente”
Este é um mito que vem ainda da ideia de que esta alimentação não fornece tudo o que o ser humano precisa. Dentro deste mito, podemos ainda salientar uma das crenças mais comuns: a ideia de que os vegetarianos têm falta de ferro e vão sofrer de anemia. No entanto, sabemos já que das plantas conseguimos obter todas os micro e macro nutrientes de que precisamos, e basta redescobrir onde os podemos encontrar. Por exemplo, podemos facilmente obter ferro através de amendoins, brócolos, feijões, ervilhas, etc, e cálcio através de amêndoas ou aveia.
Posto isto, vale a pena ainda salientar que a alimentação vegetariana rica em frutas, vegetais e grãos ajuda a aumentar a nossa imunidade. Este tipo de dieta também é frequentemente associada a menores riscos de cancro e doenças do coração.
6. “Se precisas de tomar B12, então a tua dieta não é saudável”
A alimentação estritamente vegetariana pode não ser por si só suficiente para o ser humano. Quem faz uma alimentação só à base de plantas, precisa de fazer suplementação da vitamina B12. Por essa razão algumas pessoas perguntam se esta alimentação será saudável.
Ora bem, a vitamina B12 é uma vitamina cuja falta normalmente se traduz em sonolência, anemia, insónias, perda de equilíbrio e até pode causar degeneração cerebral, pelo que é bastante importante para a nossa saúde.
A B12 é produzida naturalmente por bactérias presentes no solo. Como hoje em dia os processos de produção de comida são tão higienizados, já não conseguimos obter a vitamina B12 do solo e dos alimentos vegetais na quantidade que precisamos.
Mas os vegetarianos estão longe de ser os únicos com esse problema. A população acima dos 50 anos de idade está especialmente propensa à carência de B12 (independentemente do seu regime alimentar), devido à diminuição da acidez gástrica e a das protéases, o que leva o corpo a deixar de ser capaz de absorver esta vitamina. Assim é-lhes recomendada a suplementação de B12.
Por isso, esta é frequentemente introduzida na alimentação dos animais – e assim, quem tem uma alimentação omnívora consegue obter a preciosa vitamina B12. (Caso contrário, também precisariam de fazer a suplementação).
Por esta razão, quem opta pelo vegetarianismo precisa de ter este cuidado, o que não torna a sua alimentação menos natural.
7. “Crianças e grávidas não podem ser vegetarianas”
Como já vimos, uma alimentação vegetariana tem tudo para ser saudável, ou não – depende do equilíbrio e da variedade, e não do facto de ser vegetariana ou não. Por isso, se os seres humanos podem saudavelmente ser vegetarianos, porque não haveriam de poder as crianças ou mulheres grávidas?
Tal como explica a Direção Geral de Saúde, uma alimentação vegetariana, desde que bem planeada, está associada a múltiplos benefícios, como o aumento da longevidade, e nada indica que não possa ser praticada em qualquer etapa da vida.
Para mais informação sobre como a alimentação vegetariana é igualmente indicada para grávidas, bebés e crianças recomendamos a consulta do seguinte Ebook sobre o tema, publicado pela Associação Vegetariana Portuguesa: EBook – Alimentação Vegetariana para Grávidas, Bebés e Crianças. Inclui estratégias nutricionais, receitas, recomendações de leituras, sugestões de profissionais de saúde especializados, e muito mais.
Artigo da autoria de Daniela Pereira