A startup de tecnologia de alimentos Eat Just, da Califórnia, recebeu a aprovação do governo da Singapura para vender a sua carne de frango criada em laboratório.
A Autoridade Alimentar do país (Singapore Food Agency em inglês), reviu a extensa documentação de como a carne de frango em laboratório é feita. A agência considerou o produto seguro para consumo humano, abrindo caminho para a Eat Just lançar a sua marca “GOOD Meat” . A empresa vai vender a carne (vegana) em forma de nuggets, primeiro para restaurantes e eventualmente para revendedores.
De acordo com a empresa, a carne de frango criada em laboratório é rica em proteína, contém uma composição diversificada de aminoácidos e é rica em minerais.
Porquê carne feita em laboratório?
Carne artificial — também conhecida como “carne celular” ou “carne de laboratório” — é idêntica à carne convencional, mas sem nenhum animal ser abatido. Cientistas produzem-na em laboratório através de células de músculos de animais. O processo é parecido à criação de plantas numa estufa.
“O produtor realiza o mesmo processo biológico que acontece dentro de um animal, fornecendo calor e elementos básicos necessários para desenvolver músculo: água, proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas e minerais”, explica o Good Food Institute (GFI), uma organização sem fins lucrativos que promove a aceleração de proteínas alternativas.
A criação de animais para consumo causa uma grande pressão no meio ambiente. De acordo com a ONU, estima-se que 14.5% das emissões de gás de efeito de estufa vem da pecuária.
O aumento da sensibilização do impacto da pecuária na saúde planetária e pessoal levou a um aumento na demanda da comida à base de plantas. No entanto, ainda estamos nos primeiros dias da carne artificial. Uma startup sediada em Israel, a SuperMeat, está a dar a provar ao público carne de frango criada em laboratório, mas para já, nenhuma marca trouxe um produto para o mercado.
De acordo com a Eat Just, a empresa está também em conversações com reguladores dos EUA para vender carne artificial. Mas a Singapura está à frente no “jogo”.
“A Singapura tem sido um país líder em inovações de todos os tipos. Desde na tecnologia de informação à biologia, até agora a levar o mundo a construir um sistema mais saudável e seguro” afirmou Josh Tetrick, co-fundador e Diretor Executivo da Eat Just. “Tenho a certeza que a nossa aprovação para a carne artificial será a primeira de muitas na Singapura e em países pelo mundo”.
Ele observou também que os produtores de carne artificial podem ajudar a ir de encontro à grande demanda por proteína animal, trabalhando com o setor pecuário e decisores políticos.
Carne feita em laboratório: “Uma corrida espacial moderna”
Segundo a Good Food Institute, a aprovação da Eat Just provavelmente criará um efeito dominó para a aprovação e financiamento de carnes artificiais pela Ásia. Muitos compararam a mobilização para trazer carne artificial para o mercado como uma “corrida espacial” dos dias modernos.
“A Agência Alimentar da Singapura tem estado há muito tempo na vanguarda dos reguladores globais no estudo sobre a indústria da carne de laboratório e a sua consideração cuidadosa da melhor abordagem para regular os produtos de carne e marisco criados em laboratório”, disse Elizabeth Derbes, Diretora Associada de Assuntos Regulatórios da Good Food Institute.
A Singapura está numa posição única de liderança. A cidade-estado importa aproximadamente 90% da sua comida. No entanto, procura produzir 30% das suas necessidades nutricionais até 2030. Isto inclui não só carnes artificiais, mas também proteínas vegetais, algas e fungos. Em março de 2019, o ministro das finanças da Singapura, Heng Swee Keat, anunciou que S$144 milhões de dólares da Singapura seriam designados para um programa que inclui a produção de carne artificial, o “Singapore Food Story R&D Programme”.
A startup Shiok Meats, de Singapura, também ambiciona ganhar a aprovação da SFA (Autoridade Alimentar da Singapura) para vender os seus produtos. A empresa revelou o protótipo para a primeira carne de lagosta criada em laboratório do mundo em novembro de 2020 e ambiciona comercializar “Shiok Shrimp” (camarão) até 2022.
A Eat Just planeia produzir carne de frango em laboratório em Singapura, bem como o seu “ovo” vegan, feito à base feijão mungo, o “Just Egg”.
Fonte: Live Kindly
Tradução por: Ana Lúcia