Para reduzir os efeitos nocivos destes sistemas sobre o ambiente e a saúde humana, e para alimentar a população projetada de 10 mil milhões até 2050 de forma sustentável e saudável, os investigadores têm trabalhado arduamente para identificar dietas adequadas a nível mundial.
Este estudo comparou a acessibilidade económica de uma dieta que segue as recomendações da EAT-Lancet1 – sobretudo uma dieta vegetariana – com uma dieta tipicamente omnívora. Os resultados sugerem que são possíveis grandes poupanças.
A Comissão EAT-Lancet apresentou, em 2019, recomendações dietéticas globais que, se adotadas a nível mundial, iriam reduzir a pressão dos nossos sistemas alimentares sobre o ambiente e salvariam a vida de milhões de pessoas. Basicamente, estas recomendações consistem numa mudança para dietas com alimentos maioritariamente vegetais, gorduras insaturadas em vez de saturadas, bem como para dietas com menos alimentos de origem animal, altamente processados, ou com adição de açúcares.
Mas estas recomendações precisam de ser adoptadas para que o mundo possa apreciar os seus benefícios.
Este estudo visava assegurar que as dietas propostas pela Comissão da EAT-Lancet fossem economicamente acessíveis aos consumidores – sendo a acessibilidade económica um dos principais determinantes das escolhas alimentares. O enfoque do estudo foi na Austrália, como um estudo de caso. Os autores concentraram-se nas áreas metropolitanas, uma vez que é aí que 71% dos australianos vivem, e examinaram se tais dietas seriam acessíveis para grupos socioeconómicos baixos, médios e altos.
Os autores desenvolveram assim um cabaz alimentar para uma família padrão composta por dois adultos, um rapaz de 15 anos e uma rapariga de 4 anos, utilizando um software específico e seguindo as recomendações da Comissão da EAT-Lancet. Concebido para ser acessível e para corresponder às preferências alimentares dos australianos.
Verificaram os preços dos produtos que compunham o cabaz alimentar, indo a um dos principais supermercados australianos online (supermercados Coles – os preços dos alimentos online eram os mesmos que os preços nas lojas) e conduziram esta operação numa variedade de áreas metropolitanas de todo o país.
Depois, compararam o custo do cabaz alimentar com o rendimento semanal disponível de grupos socioeconómicos baixos, médios e altos em cada área. Também compararam o preço do cabaz alimentar, seguindo as recomendações da EAT-Lancet, com o preço de um típico cabaz alimentar australiano, baseado em hábitos de consumo reais para a mesma família padrão – um cabaz que já tinha sido desenvolvido por outros investigadores.
A seguir a fazerem tudo isto, os autores tinham o preço de um típico cesto alimentar australiano e o preço de um cesto alimentar mais saudável e mais sustentável, em diferentes áreas metropolitanas. O que descobriram foi que os preços dos dois cestos diferiam entre as áreas metropolitanas. A cesta alimentar mais saudável e sustentável custava mais $14 AUD (dólares americanos) em Brisbane do que em Sydney. Em média, a dieta mais saudável e sustentável custava $189,20 AUD por semana – 14% do rendimento disponível médio semanal –, enquanto a dieta australiana típica custava $224,66 AUD – 16% do rendimento disponível médio semanal.
Especificamente, para grupos socioeconómicos baixos, médios e altos, a dieta mais saudável e sustentável custa 17%, 13%, e 11% do rendimento disponível semanal, enquanto a dieta típica custa australiana 21%, 15%, e 13%, respectivamente.
Os resultados são positivos e encorajadores. Uma dieta que siga as recomendações da Comissão da EAT-Lancet, em particular uma alimentação à base de vegetais, é economicamente mais acessível do que a típica dieta australiana.
Isto significa que na Austrália, aqueles que vivem em áreas metropolitanas – a maioria dos australianos – poupariam dinheiro se mudassem da sua dieta típica para uma mais saudável e sustentável, e este seria o caso para todos os grupos socioeconómicos. Por exemplo, alguém a viver em Sydney que mudasse de uma dieta típica australiana, para uma mais saudável, pouparia aproximadamente $43 AUD por semana, ou $172 AUD por mês – ou $2064 AUD por ano!
O estudo ajuda a dissipar o equívoco de que as dietas, sobretudo, vegetarianas são mais caras do que as dietas convencionais, pelo menos num contexto australiano. Tais resultados interessam a todos os decisores políticos e advogados que desejem encorajar uma mudança para sistemas de produção alimentar mais respeitadores dos seres humanos, dos animais e do ambiente.
Os dados também são de interesse para todos aqueles que gostariam de ter uma dieta mais saudável que respeite tanto os animais como o ambiente. De facto, para além de todos os benefícios inerentes a este tipo de alimentação, pode mesmo ajudar a poupar dinheiro.
Adaptado da página faunalytics
Traduzido por Ana Luísa Pereira
1 EAT-Lancet – Plataforma global de base científica para a transformação do sistema alimentar.