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Quantos Animais são Abatidos Diariamente?

O presente artigo explora o impressionante aumento na produção de carne ao longo das décadas, atingindo-se quase 360 milhões de toneladas de animais abatidos num só ano. A análise estende-se ao número exorbitante de animais abatidos diariamente, destacando a escala massiva de sofrimento animal associada à agropecuária. Ao contextualizar a tendência global, e focando no caso português, cujo padrão de aumento no abate de animais segue a trajectória mundial, os números em Portugal ganham uma dimensão surpreendente: em 2022, quase 250 milhões de aves e mamíferos foram abatidos para consumo. O artigo destaca, igualmente, a magnitude do número de peixes capturados e reflete sobre como todos estes dados quantitativos devem ser vistos sob uma perspectiva ética. 
Quantos Animais são Abatidos Diariamente

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Animais abatidos ao nível mundial

Para te darmos uma ideia, ainda que vaga, porque despersonalizada, nesta fase do processo civilizacional e da humanidade em geral, a produção de carne para consumo dos seres humanos é gigantesca: quase 360 milhões de toneladas de carne por ano. 

No gráfico que se segue, podemos observar o crescimento, em toneladas, do número de animais abatidos para carne (mamíferos e aves) no mundo, entre 1961 e 2021.

Aumento da produção de carne ao nível mundial, entre 1961 e 2021

357 milhões de toneladas em 2021 – Este número é tão grande que se torna ininteligível. Para tornar estes números mais compreensíveis, transformemos o peso da carne no número de animais e relativizemos o total anual para números diários. 

Todos os dias são abatidos cerca de 900 000 bovinos. Se cada vaca tivesse 2 metros de comprimento e as dispuséssemos em fila indiana, umas atrás das outras, esta fila de vacas estender-se-ia por 1 800 Km. Isto representa o número de vacas abatidas todos os dias.
No caso dos frangos, a contagem diária é extremamente elevada – 202 milhões de frangos por dia. Para melhor se compreender este número, reduzimos ainda mais a escala: por minuto, são abatidos 140 000 frangos.

O número de peixes mortos por dia é muito incerto, mas não há dúvidas de que o número é, igualmente, enorme: centenas de milhões de peixes são mortos todos os dias. 

Os diagramas ajudam a visualizar a tendência crescente no número animais (mamíferos e aves) abatidos entre 1961 e 2021, bem como os animais mais abatidos em 2021.

Número anual de animais abatidos para carne, no mundo, entre 1961 e 2021

Número de animais abatidos para carne, no mundo, em 2021

Se acreditarmos que o abate de animais provoca o seu sofrimento e atribuirmos, mesmo que minimamente, um significado ético ao seu padecimento, percebemos que a escala moral desta realidade é imensa.

Em Portugal

O nosso país não foge à tendência mundial. Se até à década de 1960 a nossa alimentação era sobretudo vegetariana, com o ‘progresso’ e melhorias das condições de vida, o número de animais abatidos cresceu de forma vertiginosa. 

Número anual de animais abatidos para produção de carne (mamíferos e aves), no mundo e em alguns países, incluindo Portugal, de 1961 a 2021

Segundo o gráfico acima, do portal Our World in Data, Portugal registou mais de 223 milhões de abates para produção de carne, em 2021. Se, em termos comparativos, parece que não estamos assim tão mal neste quadro de abate animal, não será demais lembrar que Portugal é um país pequeno, com um total de 10 444 milhões de habitantes em 2022, segundo os dados Pordata.

No gráfico que se segue pode observar-se a evolução do consumo de forma mais clara.

Aumento da produção de carne em Portugal, entre 1961 e 2021

Os números anteriores ajudam a enquadrar o abate de animais e a produção de carne em Portugal, no contexto global. Importa, agora, tornar estes números inteligíveis. Além de alcançarmos um entendimento mais objetivo e específico no que concerne à realidade portuguesa, também teremos como perceber a abrangência do sofrimento animal. Acreditamos que a informação que se segue ajudará a desconstruir a despersonalização e objetificação inerentes à produção e comércio agropecuários

Ao consultarmos o portal do Instituto Nacional de Estatística (INE), temos acesso ao tipo de práticas alimentares desenvolvidas em Portugal. Começando pelo consumo de carne, é possível verificar um decréscimo entre 2019 e 2021, mas um aumento nos dois anos seguintes. Assim, em 2022, a média do consumo per capita foi de 118,5 kg por habitante.  

Consumo de carne em Portugal Portal do INE

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Contrariamente, no consumo de leite e produtos lácteos, a tendência parece ser decrescente. Em 2019 este consumo atingiu os 119 kg por habitante, mas em 2022 esse valor desceu para cerca de 113 Kg/hab. 

Consumo de leite e produtos lácteos em Portugal Portal do INE

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Como já referido, nestes números relativos ao consumo de produtos de origem animal está, naturalmente, subjacente o sofrimento animal. O abate de animais que visa a produção é o enfoque que aqui importa. Como tal, é imperioso expor o número exorbitante de animais mortos, em Portugal, para consumo humano.

Os dados que apresentamos de seguida estão disponíveis no portal da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Note-se que os números se referem aos animais abatidos ou preparados (em matadouros e estabelecimentos de manipulação de caça) e aprovados para esse efeito. O que significa que poderá haver discrepância relativamente ao número total de animais abatidos.

Feitas as contas aos dados publicados pela DGAV (que não os apresenta), em 2022, o número de total de aves e mamíferos mortos em Portugal foi de quase 250 milhões. Isto, para uma população de cerca de 10 milhões de pessoas – aproximadamente, 25 vezes mais, portanto.

Tal como alertámos anteriormente, “as aves são de longe os animais mais sacrificados em Portugal, e os números ascendem às centenas de milhões, todos os anos”. 

Como podes ver no quadro que se segue, daqueles quase 250 milhões de animais abatidos, mais de 237 milhões são aves. Aliás, o número de aves abatidas continua a aumentar – apesar de em 2021 se ter observado uma ligeira diminuição, em 2022, o aumento foi incrivelmente superior: 

De forma a tornar estes números mais compreensíveis, alterámos a escala. Assim, tal como anteriormente o fizemos e para teres um termo de comparação, apresentamos-te o número de aves abatidas diariamente (em matadouros aprovados), em 2022, a cada hora, minuto e segundo. Consideramos, para isso, as 52 semanas que existem num ano e respetivos 251 dias de trabalho num matadouro (5 dias por semana / 8 horas por dia).

Na tabela que se segue podemos ver as médias de aves abatidas por mês, por semana e por dia (assim como por hora, minuto e segundo), em Portugal, relativamente às aves (em 2022). São as galinhas (frangos, galos, galinhas poedeiras, etc.), os patos e os perus, as aves mais comummente abatidas para consumo, no nosso país.

De modo a tornar esta abstração numérica numa realidade mais objetiva, destacamos que todos os dias são mortas quase 1 milhão de aves. A título de exemplo, todos os dias morrem, para fins de consumo humano, 882 435 galinhas, 14 758 patos e 15 743 perus.

Diminuindo a escala, em 2022:

  • A cada hora, foram mortas mais de 110 000 galinhas
  • A cada minuto, morreram mais de 1 830 galinhas
  • A cada segundo foram abatidas 31 galinhas. 

E os peixes?

Quanto ao peixe capturado para consumo, é possível observar e confirmar o que anteriormente se referiu: o número de peixes é tão elevado que, para a maioria de nós, é indeterminável. Mais de 121 mil toneladas (121 069) de peixe capturado em 2022. Ou seja, em 2022 chegaram, aos portos portugueses, 121 069 000 kg de peixe. Os números não contemplam os peixes de aquicultura… 

Nas tabelas seguintes, com dados publicados nas Estatísticas de Pesca – 2022 do INE, podes verificar as espécies de peixes mais pescadas em Portugal, em 2021 e 2022. Além do polvo, a prevalência da sardinha não é de estranhar, tendo-se ultrapassado as 24 mil toneladas de captura, em 2022. Na verdade, como anteriormente constatámos, o consumo de peixe em Portugal é um dos mais elevados na União Europeia (UE). 

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Quando se reduzem as escalas, é possível perceber que todos os dias (contabilizando os 251 dias úteis) chegam aos portos portugueses mais de 175 mil quilos de polvo, mais de 95 mil quilos de sardinhas e quase 84 mil quilos de cavala. 

Retomamos duas ideias:

  • A de que estas milhares de toneladas correspondem a centenas de milhões de indivíduos que morrem; 
  • A de que estes milhões de indivíduos mortos terão sofrido não apenas aquando o abate, mas em várias fases até esse derradeiro momento.

A senciência dos animais não humanos

Imaginar é uma das coisas mais extraordinárias que os humanos podem fazer. Agora descobrimos que os animais também podem fazer isso”, afirma Albert Lee, um dos cientistas que integra a equipa de investigação norte-americana (do Janelia Research Center do Howard Hughes Medical Institute) que desenvolveu uma espécie de “detetor de pensamento”. 

Este sistema combina a realidade virtual de 360 graus com uma interface cérebro-máquina para sondar os pensamentos dos ratos. Além de medir a actividade elétrica do hipocampo em tempo real – a região do cérebro onde as memórias são armazenadas e geradas –, o sistema é capaz de traduzir o seu significado.

Quando o cérebro está a recordar, há uma actividade específica no hipocampo relacionada com essa actividade. Descobriu-se que, tal como os humanos, os ratos podem controlar com precisão e flexibilidade a actividade do hipocampo. Segundo o mesmo investigador, os animais conseguem manter essa actividade no hipocampo por vários segundos – tempo semelhante ao que os humanos levam para reviver acontecimentos passados ou imaginar novos cenários.

Estudo é ‘apenas’ mais um testemunho e confirmação da senciência dos animais não humanos, conforme temos vindo a divulgar na AVP, aqui, aqui ou aqui, por exemplo.

Apesar destas e de outras evidências, o consumo de animais pelos humanos continua a aumentar. Por outras palavras, o número de animais abatidos para consumo humano continua, infelizmente, a aumentar.

male farmer holding one his goats farm

E se deixássemos de consumir carne?

Pelas nossas contas, são cerca de 222 mil milhões os animais terrestres que todos os anos são mortos. Em Portugal, o número de animais abatidos ultrapassa, aproximadamente, 25 vezes a população portuguesa. Muitos destes milhões e milhões de animais sofrem desde o momento que nascem. Por conseguinte, vale a pena lembrar que a maioria dos animais de criação do mundo é criada em condições deploráveis, a título de exemplo:

  • Os porcos são mantidos em condições apertadas e stressantes, vivendo uma vida de desconforto e angústia crónicos;
  • As vacas têm os seus vitelos retirados para produzir leite para consumo humano, uma prática em que tanto a mãe como o vitelo sofrem;
  • As aves criadas para frango crescem tanto em tão pouco tempo que desenvolvem uma série de doenças, incluindo insuficiência cardíaca e respiratória, e dificuldades severas de locomoção, passando horas ou até dias sentadas ou deitadas por não se conseguirem levantar.
  • Às galinhas, frequentemente, cortam-lhes os bicos para evitar que lutem com outras galinhas devido ao desconforto e à dor; muitas não conseguem virar-se durante toda a sua vida.
  • O processo de atordoamento falha, levando a que os animais não estejam completamente insensibilizados, o que os mantém vivos e em sofrimento aquando o abate. E o corte, muitas vezes, não é um golpe de misericórdia, podendo os animais manterem-se despertos mesmo durante a fase de desmembramento.
  • Muitos animais são castrados sem anestesia.

Só para dar alguns exemplos do seu sofrimento…

Tendo em conta que os humanos continuarão, e cada vez mais, a viver as consequências das suas escolhas, salientamos que, além dos óbvios benefícios do fim do sofrimento para os animais não humanos, existem outros, se se reduzisse drasticamente o consumo de carne, nomeadamente:

  1. Menos utilização da terra para a agricultura e mais biodiversidade: quase metade da terra livre de gelo e de deserto do mundo é utilizada para a agricultura, e a maior parte desta terra é utilizada para a criação de gado. O total da utilização global da terra para a produção de carne e lacticínios ascende a 37 milhões de quilómetros quadrados, uma área tão grande como a totalidade das Américas. Como demonstrou Hannah Ritchie, se não comêssemos carne, seria possível reduzir as terras agrícolas de 4 para 1 mil milhão de hectares. As mudanças no sentido de um menor consumo de carne trariam grandes benefícios para os animais em todo o mundo, uma vez que a natureza selvagem poderia voltar a crescer e, assim, proporcionar habitats para a vida selvagem.
  2. Benefícios para o clima mundial: Reduzir o consumo mundial de carne ajudaria a combater as alterações climáticas: reduziria as emissões directas dos gases poluentes (nomeadamente, metano e óxido nitroso) que derivam do gado (em particular, devido à fermentação entérica e gestão de estrume), bem como as emissões que resultam do uso do solo e das florestas.
  3. Menos resistência aos antibióticos: A redução do consumo de carne a nível mundial diminuiria a necessidade de utilização de antibióticos na criação de gado, uma prática que visa evitar doenças entre os animais de agropecuária mas que contribui para o aumento de bactérias resistentes aos antibióticos, entre as pessoas que consomem posteriormente esses mesmos animais. Assim, a redução do consumo de carne e derivados poderia preservar a eficácia dos antibióticos existentes e a saúde das pessoas em todo o mundo.
  4. Menor risco de pandemias: Muitas doenças infecciosas têm origem noutros animais. As condições de alta densidade em muitas instalações de produção de carne criam ambientes ideais para a mutação e propagação de agentes patogénicos. A redução do consumo global de carne reduziria o risco de doenças zoonóticas e o risco de sofrer outra pandemia.

O que podemos fazer?

Além dos artigos que a AVP tem vindo a publicar para alertar e continuar a sensibilizar para a necessidade urgente de mudarmos os nossos comportamentos e atitudes, são vários os projectos e campanhas que se têm desenvolvido e promovido, entre os quais o Abrir de Asas.

Mais do que um projecto, tal como a sua denominação indica, o Abrir de Asas apareceu para “abrir os olhos dos consumidores, para o que esconde a realidade da produção (…); para abrir as jaulas onde as galinhas vivem exploradas, sem espaço para se mover, sem respirar ar puro, sem acesso a condições mínimas que permitam desenvolver os seus comportamentos naturais mais básicos; (…) para abrir o caminho ao diálogo, à compreensão, ao conhecimento e à empatia”.

Esta é apenas uma das formas de agir. Mas, todos juntos, podemos continuar a construir a mudança:

Entre muitas outras ações. Sabe mais na página da AVP.

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