A empatia é a qualidade de nos colocarmos no papel do outro, de intuir o seu mundo interior, de compreender seus pensamentos, as suas emoções, os seus comportamentos. É indispensável na nossa relação harmoniosa com os outros e é fundamental numa sociedade ética. Ao adoptar-se o veganismo, sinto que o que nos distingue é a expansão da nossa empatia a todos os seres sencientes, conservando a nossa empatia pelos outros humanos.
Empatia não é o mesmo que simpatia. Não significa que tenha que gostar de todos os animais, nem tampouco significa que eu tenho simpatia por todas as pessoas. Há pessoas por quem eu poderei nutrir uma aversão profunda, como qualquer outra pessoa. Mas farei um esforço em compreender porque fazem o que fazem e porque sentem o que sentem.
O veganismo é um instrumento para um fim. Não existe enquanto um propósito em si. É a prática de valores através da qual procuramos minimizar o dano que causamos sobre os outros, em particular, os animais não humanos. É um esforço activo para os proteger, em cada acção e atitude que tomamos, por um mundo mais justo.
É também um exercício de coerência, pois na expansão da nossa empatia e solidariedade, não devemos perder parte dela, ou sacrificá-la à misantropia, ao ódio de quem perpetra a violência.
Embora possa parecer contraditório, proteger os animais passa por ser empático com aqueles que não demonstram empatia para com os animais. Empatia é, neste caso, recordarmos-mos que já fomos também agressores, também já participamos num sistema que explora violentamente os animais, e também noutra altura da nossa vida fomos ignorantes do seu sofrimento e opacos à realidade. Não sabíamos ou não queríamos saber, sabíamos mas não mudávamos, arranjávamos desculpas e argumentos, adiávamos e não fazíamos. Já fomos o “ele”, o “outro”.
Muitos de nós despertaram para a sua realidade e obtiveram a informação necessária à sua mudança porque outras pessoas optaram por conversar, por informar, por esclarecer, por indicar, por sugerir. Podiam ter optado por censurar, moralizar e insultar e, muito provavelmente, teriam afastado essas pessoas, desperdiçando uma oportunidade real de poupar mais animais a uma vida curta de sofrimento e a uma morte prematura. Estariam a polarizar-se em relação a elas, a criar uma distância empática, e a caricaturar-se como alienados e extremistas.
Por isso, o único caminho eficaz para defender os animais é o da inteligência, da racionalidade, da educação, e da compreensão. Sim, é difícil ser empático com quem opina ignorantemente, ou não quer saber nem se preocupa, ou por aqueles que infligem sofrimento sem aparente remorso, ou que cometem actos hediondos, mas é um teste à nossa capacidade altruísta e à integridade dos nossos valores. Um que devemos superar em cada discussão com familiares, amigos e estranhos.
Não conseguimos proteger os animais e ser o instrumento da mudança que eles precisam se perdermos a empatia pelos outros humanos, por aqueles que ainda não fizeram essa transformação nas suas vidas. A maior prova do veganismo não é conseguir viver anos a fio sem comer carne, é a capacidade de empatizar com aqueles que ainda não floresceram a sua empatia, e cultivá-la nessas pessoas.