Neste artigo vamos abordar 18 dos mitos e estereótipos mais comuns (e mais frustrantes) sobre o veganismo – precisamente por não serem verdadeiros!
1. As pessoas veganas são magras e fracas no desporto – devido à deficiência em proteína
Este é, provavelmente, o mito mais comum: “as pessoas veganas (ou vegetarianas estritas) não ingerem proteína suficiente”.
De acordo com este mito, os músculos dos recém-veganos entram numa trajetória descendente e atrofiam…
Algumas pessoas pensam que os veganos precisam tomar proteína em pó todos os dias para atingirem os respetivos níveis adequados. Também existe a crença de que é necessário ‘combinar’ os alimentos certos, em cada refeição, para que esta fique completa em termos proteicos.
Tal como na maioria dos estereótipos, o do ‘vegano com deficiência em proteína’ tem algo de verdadeiro: geralmente, as dietas de base vegetal têm menos proteína do que as que incluem ingredientes de origem animal. E as pessoas que seguem uma alimentação estritamente vegetariana têm, com efeito, um valor médio de IMC (índice de massa corporal) mais baixo, em comparação com aquelas que comem carne.
Mas se conheceres um número significativo de pessoas veganas, verás que as “da vida real” fogem a esse morfotipo. Algumas são, inclusive, bastante musculadas, outras apresentam sobrepeso e outras estão, simplesmente, dentro da média.
No caso de realmente precisares de te convencer, apresentamos-te SEIS factos que demonstram que este estereótipo é falso:
a) Existem inúmeros atletas de competição veganos e bem-sucedidos.
Viste o documentário ‘The game changers’? Mostra como os atletas com uma dieta de base vegetal recuperam mais rapidamente e muitas vezes têm desempenhos superiores, em comparação com aqueles que comem carne.
Neste documentário, são entrevistados atletas veganos de todos os tipos – não apenas desportistas de resistência, mas também de desportos que impliquem força.
b) Nos desportos em que se valoriza a massa corporal magra, os veganos estão em vantagem.
Na corrida e no ciclismo, por exemplo, o peso corporal tornar-te-á mais lento e ficarás para trás. Embora seja perfeitamente possível aumentar o volume corporal através de uma dieta de base inteiramente vegetal, na verdade, este tipo de alimentação destaca-se por gerar uma constituição magra.
Os vegetarianos estritos (comumente designados de veganos) atingem, naturalmente, um índice de massa corporal mais baixo do que aqueles que comem carne ou que adotam uma dieta flexível – sem necessitarem de contar as calorias.
c) Existem fisiculturistas e halterofilistas veganos de sucesso.
Deixamos-te alguns dos mais conhecidos e que podes seguir no Youtube: Jon Venus, Nimai Delgado, Derek Simnett e Brian Turner. Também podes consultar ‘Plant Based Muscle’ um livro da autoria Robert Cheeke e Vanessa Espinoza, ou The Vegan Muscle & Fitness Guide to Bodybuilding Competitions [O músculo vegano & guia de fitness para competições de bodybuilding] publicado por Derek Tresize.
Em português, sugerimos-te o “Saúde & Fitness Vegan”, da autoria de Rafael Pinto.
d) A maioria dos portugueses come muito mais proteína do que precisa.
E não são apenas os veganos que o afirmam. Dá uma vista de olhos a este artigo do New York Times (NYT) e vê este, de 2019, sobre as crianças portuguesas.
A dose diária recomendada citada neste artigo do NYT é de 46 gramas para as mulheres e 56 para os homens – aqueles que seguem uma alimentação de base 100% vegetal atingem este valor muito facilmente.
e) Os atletas também conseguem proteína em abundância numa dieta de base 100% vegetal.
O guia publicado no blog No Meat Athlete conduzir-te-á através dos mitos dos atletas e da ingestão de proteína. As suas indicações, para os desportistas, são de 1 a 1,2 g de proteína por Kg de peso corporal. Para alguém com cerca de 63,5 Kg, isso corresponde a uma quantidade entre as 64 e as 76 g de proteína por dia. Continua a ser muito simples para um estritamente vegetariano.
d) Se quiseres, podes continuar a aumentar a tua ingestão de proteínas.
Existem alimentos de origem vegetal com alto teor de proteína, designadamente tofu, tempeh, seitan ou feijões. Também é fácil encontrar proteína em pó. Por isso, mesmo que o teu objetivo seja fornecer-te muita proteína extra, podes fazê-lo através de uma dieta de base inteiramente vegetal.
Tyler McFarland 2, o autor deste artigo, por exemplo, manteve a sua dieta estritamente vegetariana com cerca de 120 g proteínas diárias, atingindo, assim, as recomendações de bodybuilders.
Se fizeres um esforço, ainda podes incluir alimentos ricos em proteínas, em todas as refeições!
2. As pessoas veganas são todas hippies (os veganos são “pessoas que abraçam as árvores”)
Quando o veganismo ainda era um fenómeno recente, é possível que tenhas visto inúmeras representações dos veganos como hippies – como ‘yogis ’ que irradiam amor e paz, mas sem fundamento na realidade. Algumas das pessoas veganas encaixam nesta categoria, claro, o que tem os seus prós e contras. A espiritualidade da New Age, erva, obcecados pelo desperdício zero, fermentam a sua própria kombucha, etc. 3.
Em termos políticos, as pessoas que se enquadram no grupo ‘vegano hippie’ podem estar focadas em tudo o que esteja relacionado com a ‘paz’ ou a ‘não-violência’, sem qualquer ideologia específica que a sustente. Enquanto se opõem ao racismo e à opressão, poderão preferir concentrar-se no que é positivo: ‘pró-amor’, ‘pró-igualdade’, ‘pró-paz’, em vez de ‘antirracista’, ou ‘antiguerra’.
Apesar de se poderem observar todos estes elementos entre os círculos veganos, não se pode afirmar, de todo, que todas as pessoas veganas se encaixam nesta descrição.
Tal como o resto desta lista enfatiza, existem pessoas com os mais variados pensamentos e as mais diferentes personalidades, que podem, ou não, se enquadrar em tal estereótipo.. Politicamente falando, e a título de exemplo ou de analogia, encontramos pessoas veganas à esquerda, à direita e em todas as posições políticas intermédias. Os veganos vêm em todos os feitios e para todos os gostos!
3. As pessoas veganas são ativistas zangadas ou terroristas.
Existe o estereótipo de que o passatempo preferido das pessoas veganas é andar por aí a atirar tinta vermelha sobre os que usam casacos de pele, ou a gritar “carne é crime”, a todos aqueles que consomem produtos de origem animal.
Ao fim-de-semana, os veganos “gostam de invadir quintas para libertar os animais, pintar a palavra “criminosos” nas paredes de lojas”… tu sabes… isto é o que os veganos fazem nos seus tempos livres para se divertirem, certo?
Embora haja pessoas veganas que organizem ou participem em protestos e manifestações que procurem chamar a necessária atenção para a importância da ética e para a atual problemática da exploração animal, são uma minoria aquelas que efetivamente o fazem. E destas, apenas uma ínfima, mesmo pequena, percentagem participa recorrendo a uma abordagem hostil e agressiva.
Tal como se observa em muitas subculturas, as pessoas mais barulhentas tendem a ser as mais agressivas. Por isso, sim, podes deparar-te com pessoas veganas que, de forma audível e publicamente, revindiquem os direitos dos animais e a sua merecida libertação mas trata-se, no entanto, de um número muito reduzido.
Em relação aos veganos serem terroristas… Outra vez: esta é uma acusação séria. Devemos ter em mente que apenas uma percentagem extremamente reduzida, em todo mundo, já fez algo de ilegal em nome do veganismo. E se os ativistas cometerem atos ilegais em nome do veganismo, normalmente, são atos relacionados com a destruição ou invasão de propriedades com o objetivo de resgatar e salvar animais.
4. As pessoas veganas são pessimistas e deprimentes.
Há pessoas que associam o veganismo a uma corrente que observa e se concentra em tudo o que está errado no mundo.
O autor do artigo original, no qual nos baseamos para escrever o presente, chama novamente a atenção para não ser mal-entendido: de facto, muitas pessoas veganas preocupam-se profundamente com o que está a suceder com os animais.
Por conseguinte, a indignação e o repúdio são emoções que muitos sentem quando confrontados com o que se passa na indústria agropecuária, decidindo, assim, tornar-se veganos ou vegetarianos estritos.
Mas isto não significa que se torne um hábito estar sempre a falar sobre as coisas condenáveis que acontecem no mundo.
Adicionalmente, muitos veganos reconhecem que as atuais enormes quantidades de sofrimento no mundo estão associados ao facto de vivermos tempos da história humana com grande prosperidade, nos países desenvolvidos 4.
As propriedades e indústrias agropecuárias são um dos excessos do capitalismo e da Revolução Industrial. Mas, para essas, o tempo está em contagem decrescente. O conhecimento sobre o que lá se passa está a disseminar-se e as alternativas estão a crescer.
De um modo geral, ser vegano significa simplesmente teres os olhos abertos para o facto de haver alternativas mais adequadas. E sim, isso inclui chamar a atenção para os problemas existentes no modo de operar das sociedades contemporâneas.
Se segues um estilo de vida vegano, tal não quer dizer que és um ‘pessimista’. És, na verdade, uma pessoa apaixonada. Acreditas nas tuas convicções e valores e estás comprometido. Não és simplesmente ‘negativista’.
5. As pessoas veganas são pretensiosas, virtuosas, conspícuas 5 e sabichonas
Este é duro. A verdade por detrás deste estereótipo é o facto de muitos veganos serem apaixonados. E essa paixão pode descarrilar para aquela expressão: ‘ser mais papista que o papa’.
É fácil parecer-se pretensioso sem intenção, mas é o que tende a acontecer com os veganos ‘pretensiosos’.
Quando tomas consciência do sofrimento massivo que os animais vivem nas indústrias agropecuárias – ou da destruição ambiental provocada pela pecuária –, é como se os teus olhos se abrissem pela primeira vez.
Como consequência, começas a sentir que as outras pessoas também precisam abrir os olhos. Como recém-vegano, desejas viver o conceito de “Bodhisattva’ do Budismo – aquele que depois de atingir a iluminação regressa para auxiliar toda a gente a alcançar esse estado iluminado.
Sem querer, podes tornar-te num ‘pregador’ ou ‘mais papista que o papa’. Os veganos e a ‘sinalização de virtude’.Com o surgimento das redes sociais, o termo ‘sinalização de virtude’ [virtue signaling] tornou-se mais comum e as pessoas veganas são aquelas que mais frequentemente são acusadas disso. Mas enquanto que alguns veganos podem ser arrogantes ou rudes nas suas proclamações morais, muitos deles são apaixonados e pretendem apenas partilhar o que aprendem.
Desejam contribuir para a aprendizagem e progressão coletiva da espécie humana. Não se trata de serem melhores que todos os outros. Trata-se de acreditarem na existência de outro caminho para a humanidade e de acreditarem que estão na direção certa. Por conseguinte, encorajam os outros para que se juntem a si.
6. Os veganos não aceitam uma piada, nem são capazes de se divertirem
Algumas pessoas pensam que os veganos não aceitam uma brincadeira. A verdade, porém, é que muitos são pessoas alegres e sabem fazer piadas, até sobre o veganismo e outros temas ético-sociais sérios.
A partir do momento em que te habituas ao veganismo, este começa a integrar a tua vida. É algo que se torna normal para ti, não sendo, necessariamente, o principal tema de cada dia.
À partida, os veganos sabem que nem todos compreenderão porque é que eles são veganos ou terão interesse em perceber o que sucede nas unidades agropecuárias. Mas podem sentir empatia em relação à ignorância e desconhecimento das pessoas.
Na perspetiva do autor do artigo que serviu de inspiração a este, não é particularmente eficaz influenciar os outros quanto ao veganismo sendo-se excessivamente sério. O ideal será viver uma vida feliz e saudável e, assim, viver como exemplo para os outros.
Se as outras pessoas perceberem que vives bem sendo vegano, elas podem ficar interessadas. E para isso é importante conseguires brincar com o veganismo, ao mesmo tempo que se transmite uma mensagem importante.
7. Os veganos estão mais preocupados com os direitos dos animais do que com os direitos humanos
Se tu és uma pessoa que segue o estilo de vida vegano mas que, efetivamente, igualmente se preocupa com os direitos humanos, este estereótipo é, realmente, frustrante.
As pessoas pensam que, só porque defendes os direitos animais, estes são “mais importantes” para ti do que os direitos humanos. O autor lembra-se de um comentário online, acerca de um grupo de manifestantes pelos direitos dos animais, que se tornou viral. Basicamente, dizia o seguinte: “Vocês estão todos preocupados com os animais, mas não querem saber das pessoas negras”.
Primeiro, como é que sabes se as pessoas que estão nas manifestações pelos direitos dos animais não estarão nos protestos contra o racismo?
Segundo, é diferente aquilo que está a acontecer com os animais explorados na pecuária e o que está a suceder com minorias ou grupo de pessoas oprimidas. Embora ambos possam enfrentar uma enorme violência, a gravidade, a escala, os tipos e a consistência dessa violência não são equivalentes.
De forma instintiva, a maior parte das pessoas (sejam, ou não, veganas) preocupa-se com os direitos humanos, independentemente de outras causas que defendam. No entanto, para alguns veganos, os tipos de violência infligidos aos animais são de tal modo graves e não reconhecidos como tal, que consideram que este problema deve ser particularmente alertado e, como tal, é fundamental protestar acerca disso.
Quando se trata de apoiar causas e movimentos distintos, todos estamos limitados em termos de tempo e energia. Por outro lado, estamos todos em pontos diversos na nossa jornada. E todos sentimos diferentes ligações pessoais em relação a cada problema. Pelo exposto, não se pode generalizar sobre o facto dos veganos se preocuparem mais com os direitos dos animais do com as questões humanas.
8. Os veganos estão obcecados com a pureza do seu estilo de vida (e dieta)
Algumas pessoas lêm uma definição da palavra ‘vegano’ online e presumem que todos são extremamente rígidos relativamente ao seu estilo de vida e a cada ingrediente da sua alimentação.
Mas, na prática, todos seguimos diretrizes ligeiramente distintas no que toca à alimentação de base 100% vegetal e no que ao modo de ser e estar vegano concerne.
Por exemplo, alguns veganos entendem que é incorreto comprar peças em pele em segunda mão, em lojas de usados – ou até guardar os seus pertences em couro, após adoptarem o estilo de vida vegano. Porém, existem pessoas que se sentem à vontade com isso. Salientam que é mais ecológico usar, uma vez que este material já existe.
A bem da verdade, o veganismo é confuso. Provavelmente, ninguém pode ser 100% vegano se se tiver em conta a definição padrão. Mas também, não é esse o objetivo.
Este estilo de vida está associado ao esforço para realizar mudanças positivas que reduzam o sofrimento no mundo. Ser vegano não tem a ver com ser perfeito ou puro. Nunca teve.
9. O veganismo é mais uma forma de consumerismo 6, que apoia o capitalismo
Esta será mais uma crítica que a política de esquerda – marxistas, socialistas e, sobretudo, os comunistas – tecerá às pessoas veganas.
Estes críticos afirmam que o veganismo é apenas um movimento de boicote do consumidor e que, por esse motivo, reforça o capitalismo através da ideia de “votar com o teu dinheiro”. O veganismo, dizem, perpetua a noção de que pode haver um consumo ético sob o capitalismo.
Para o marxismo e outros pensamentos similares, a raiz do problema está no capitalismo. Neste contexto, qualquer coisa que não coloque realmente em causa este sistema, não está a atacar ou a resolver este problema real. É por isso que argumentam que estilos de vida políticos e ideológicos, como o veganismo, são um beco sem saída.
No entanto, é aqui que as críticas ao veganismo caem por terra:
A maioria dos veganos concorda que é necessário tomar outras medidas para além de alterar a sua dieta. Mas mesmo que o capitalismo seja o cerne do problema, isso não quer dizer que não devas retirar o teu apoio financeiro às indústrias cruéis que dele dependem.
Muitos veganos consideram que a mudança de dieta é um pequeno passo para causar impacto positivo no mundo. Todavia, não quer dizer que isso seja o suficiente para eles.
Para muitos outros, ‘ser vegano’ ultrapassa a dieta. Pode significar participar em protestos. Pode significar distribuir panfletos ou defender mudanças em muitos lugares. De acordo com a definição da The Vegan Society [A Sociedade Vegana], o veganismo tem a ver com o princípio de oposição à exploração. O próprio Karl Marx salientava que o capitalismo se baseia na exploração dos trabalhadores pelos capitalistas. Ora, na pecuária atual, o que se observa é uma espécie de hiper-exploração.
Os animais podem ser legitimamente explorados de forma muito mais extrema do que os trabalhadores humanos. Legalmente, os animais podem trabalhar até à morte.
A verdadeira questão é lutar contra a exploração animal. Não se trata apenas de comprar um hambúrguer vegetariano de uma grande empresa, em vez de um de carne a outra grande empresa.
Nota: Pelo contrário, outros veganos acreditam no capitalismo. Estes argumentariam que o veganismo é precisamente o tipo de ética que o capitalismo necessita para um progresso máximo neste planeta. Como se pode verificar, há veganos de todas as classes.
10. Todos as pessoas veganas são brancas
Este é um dos estereótipos mais prejudiciais, na medida em que se pode auto perpetuar. A verdade é que o veganismo se relaciona com a inclusão, independentemente da cor ou etnia.
Este estereótipo sobre veganismo poderá estar relacionado com a cobertura enviesada dos media, que, em situações pontuais, escolhem promover mais palestrantes, autores ou figuras públicas brancas.
Existem veganos negros. Existem veganos latinos. Existem veganos asiáticos, etc.
A ideia do veganismo como um movimento de gente branca não é verdadeira e nunca o foi. Ao longo da história do veganismo sempre têm existido, naturalmente, veganos de outras etnias.
Ao afirmar-se que o veganismo é “um movimento de brancos”, estamos a subvalorizar os contributos dados por pessoas veganas de outras etnias. Para muitos destes veganos, esta é a coisa mais frustrante que se pode ouvir.
Aqui fica uma sugestão de um livro notável sobre as mulheres negras e os seus caminhos para o veganismo: Sistah Vegan. Este é apenas um dos excelentes recursos disponibilizados pela autora, A. Breeze Harper.
11. O veganismo é um movimento para os ricos
Tendo em conta os preços associados a alguns produtos de base vegetal e a determinadas lojas de alimentação especializada, há pessoas que presumem que tens de ser rico para seres estritamente vegetariano.
É provável que o mais conhecido supermercado associado aos produtos alimentares de base vegetal seja o Whole Foods Market, por vezes satirizado com a alcunha Whole Paycheck, pelos seus preços terem a ‘fama’ de serem muito altos. Mas esta tendência de preços mais elevados, no que toca aos produtos vegan e em lojas especializadas, tem vindo a diminuir já que assistimos ao aumento na oferta de produtos de base vegetal e, como tal, à queda de preços por motivos de economia de escala e de maior concorrência.
Nota: uma alimentação de base inteiramente vegetal pode ser extremamente acessível. Na realidade, os consumidores vegetarianos estritos são os que gastam menos relativamente a todos os outros consumidores avaliados, segundo este estudo.
Se entrares na seção da AVP dedicada à alimentação, mais concretamente aqui, encontrarás várias opções para cada uma das refeições do dia. De qualquer modo, mantém-te atento ao nosso blog – estamos sempre a procurar formas criativas e, ao mesmo tempo, económicas para tornar as refeições não apenas nutritivas e equilibradas, mas igualmente saborosas (e conscientes).
Uma dieta de base 100% vegetal não requere necessariamente mais tempo na preparação de refeições. Para te ajudar a entender como é possível, com uma alimentação sem ingredientes de origem animal, economizar tempo na cozinha, deixamos-te algumas ideias de ingredientes ou pratos simples, que podem ser rapidamente preparados e integrar receitas deliciosas:
- Flocos de aveia (confecionam-se em apenas alguns minutos no micro-ondas ou no fogão) ou podem ser consumidos sem cozedura.
- Arroz cozido ou frito.
- Massa cozida.
- Fruta fresca, vegetais e nozes (sem qualquer preparação).
- Feijões (quando enlatados são uma solução de ingrediente fácil e barato, sendo que, quando secos, são ainda mais baratos, mas demoram mais tempo em termos de cozedura e confecção).
- Sobras (sempre que dispores de tempo para uma refeição, faz a mais, depois aquece no micro-ondas).
- Aqui encontras mais cinco dicas essenciais para ires às compras.
Com toda a honestidade, podes observar uma curva de aprendizagem quando te tornas vegano ou vegetariano estrito. Inicialmente podes não saber como pode ser acessível. Daí que possa exigir mais tempo e dinheiro. Contudo, isso deve-se ao facto de ser algo novo – não por ser inerente à dieta vegana.
Se realmente custasse fortunas, a maioria das pessoas não o poderia fazer. Na realidade, tudo na vida pode ser feito de forma económica, ou não.
12. Os veganos estão obcecados em serem veganos – é a sua identidade
Há uma piada popular que reza assim: “Como é que sabes que alguém é vegano? Não te preocupes, ele/a te dirá. Mas será mesmo assim?
Talvez grande parte dos veganos tem um certo grau de paixão ou convicção sobre a sua decisão em ser vegano. Porém, há muitos veganos que:
- Não costumam participar em manifestações sobre os direitos dos animais, nem distribuir folhetos sobre o veganismo.
- Não seguem contas veganas nas redes sociais.
- Não costumam ir a Festivais Vegetarianos/Veganos.
Embora para grande parte das pessoas que seguem o estilo de vida vegano, este seja um compromisso ético valioso, isso não é somente o que as define. Este não é um tema que invariavelmente mencionem em conversa, a não ser se, por exemplo, alguém pergunte.
O autor do artigo original, no qual nos baseamos para montagem desta lista, conhece muitos veganos tímidos que preferem não ser colocados na berlinda, para não terem de explicar as suas escolhas.
Se estás constantemente a falar sobre o veganismo, isso é sobretudo por uma questão de personalidade, ou pela necessidade logística da situação.
13. Os veganos são pessoas suaves e delicadas
Existe a percepção de que o veganismo não é ou não pode ser algo masculino ou forte. Uma vez que já falámos acerca dos mitos sobre a proteína e a força física, vamos agora abordar as questões da força e resistência emocional.
Primeiro: A compaixão não é sinal de fraqueza. Sentir misericórdia por uma criatura impotente, não é sinal de fraqueza.
Contrariamente, cometer atos de violência (ou pagar a alguém para os executar) contra seres indefesos não te torna forte.
Segundo: o que os veganos estão realmente a fazer, quando se abstêm de comer animais, é assumir uma posição. Decidem agir de forma distinta à da restante sociedade. Isso é ser forte e corajoso.
Ser vegano requer pensamento independente e convicção. Se fores preguiçoso/a, provavelmente falharás. Há que ser honesto; às vezes é um pouco difícil e até inconveniente.
Se não tens capacidade de aceitar as críticas alheias, possivelmente falharás. Porque irás encontrar pessoas que discordarão contigo e que te vão censurar por isso.
De maneira que, em vez de veres o veganismo como sinal de debilidade ou brandura, seria de ver como um sinal de que esta ou aquela pessoa pensa e age de acordo com a sua própria bússola e não pela orientação da sociedade ou outrem.
14. Os veganos têm uma dieta sem sabor – comem sobretudo saladas e produtos de soja
Às vezes, parece que os únicos produtos amplamente conhecidos como sendo adequados para os estritamente vegetarianos são a salada e o tofu.
Verdade seja dita, muitos dos produtos que os portugueses comuns comem de forma regular são de base vegetal ou facilmente se podem adaptar. Encontramos muitas e variadas entradas, aperitivos, e sobremesas de origem vegetal em todas as gastronomias.
Há, na verdade, vegetarianos estritos que não apreciam muitos dos vegetais. Quando contam isso, as pessoas reagem: “Espera aí, tu és um vegan que não gosta de vegetais? O que é que tu comes?”
Esta reação desconcertada ilustra o facto de que muita gente pensa que alimentação 100% vegetariana se resume a vegetais, nomeadamente alface.
Muitos pensam que 90% dos alimentos embalados à venda nos supermercados não são de base vegetal. Se lhes dissesses que muitas das batatas fritas ou sas bebidas energéticas são adequadas e consumidas por veganos, ficariam seriamente chocados.
Felizmente, a consciência acerca do significado de ‘vegano’ está a evoluir.
No caso de não saberes, dá uma vista de olhos nesta lista enorme de produtos “acidentalmente veganos”, com que te podes deparar num supermercado normal.
Conclusão: os veganos não comem apenas salada ou hambúrgueres de soja. Comem imensos alimentos diferentes!
15. Os veganos pensam que os que comem carne são más pessoas
Por vezes, os veganos têm a sensação de que os outros pensam que eles os estão a julgar por comerem carne. Acabam por pedir desculpa por não serem estritamente vegetarianos. Claro, seria fantástico se toda a gente o fosse e este é o pensamento generalizado dos veganos: que todos beneficiariam se cada vez mais pessoas adoptassem este estilo de vida.
Não obstante, tal não significa que os veganos odeiem as pessoas que comem carne.
Cada pessoa está numa fase diferente da sua jornada. De certa forma, é compreensível que, com base nos factos que estão à sua disposição, nem toda a gente pense que o veganismo ou vegetarianismo funcione para si. Também se compreende que todos nós temos valores e perspetivas distintas.
Os veganos tendem a respeitar mais as pessoas se estas forem veganas? Sim, pode acontecer. Isso decorre do facto de lhes associarem mais pensamento crítico e sentimento de compaixão. Ainda que aqueles que não seguem o veganismo também possam apresentar essas características.
Certamente, o pensamento seguinte é comum: é melhor ser amigo de alguém que come carne e é amável e interessante, do que de um vegano mesquinho e aborrecido.
Obviamente que os veganos podem discordar do facto de outros comerem produtos de origem animal. Mas isso não é um motivo invariavelmente usado para não tolerarem outras pessoas.
16. Os veganos só estão a passar por uma fase
Certas pessoas não conseguem acreditar que o veganismo seja algo que tu manterias por muito tempo. Mas há pessoas que já são veganas há décadas!
Algumas pessoas anunciam estatísticas sobre como supostamente muitos veganos desistem de sê-lo. Tomam esta percentagem como algo que demonstra que esta não é uma forma sustentável ou saudável de se viver. É apenas uma ‘fase’…
Com efeito, uma boa parte dos veganos desiste. Porém, se tal acontece isso não se deve ao facto de esta ser uma dieta inadequada, insalubre ou irracional. Justifica-se, antes, pelo desafio que é ser vegano num mundo não-vegano.
Quando alguém abandona a dieta de base 100% vegetal, isso é reflexo quer da psicologia humana, quer da dificuldade da nossa sociedade em aceitar o veganismo.
No que respeita à psicologia humana, significa que os seres humanos desistem de todos os tipos de coisas – especialmente de dietas. Alterar para algo claramente diferente da dieta anterior e da dos amigos e familiares é difícil! Pode ser duro ser o “vegano solitário”. Felizmente, os alimentos de base vegetal estão cada vez mais acessíveis. E a nutrição vegetariana começa a ser, igualmente, mais bem aceite pelas autoridades de saúde. Portanto, estamos a assistir a um movimento crescente. Mas, por ora, ainda é um desafio para muita gente.
Assim, apesar de alguns realmente desistirem, não é de considerar uma fase. Isso é uma maneira muito condescendente de ver a coisa.
A maioria das pessoas que abandona o veganismo não olha para trás, como se tivesse sido uma ingenuidade da adolescência angustiada. A maior parte continua a pensar no veganismo como sendo nobre e correto – simplesmente não estava a funcionar ou não havia força de vontade.
Por isso, não, a generalidade dos veganos não está a “passar por uma fase”. Muitos estão a fazer uma tentativa séria para colocar em prática os seus princípios. E muitos são veganos por muitos anos, até pela vida toda.
17. Todos os veganos são liberais ou de esquerda
Tal afirmação está longe de ser consensual.
Em primeiro lugar, há debates dentro do movimento vegano no que respeita à intersetorialidade. Algumas figuras proeminentes têm o cuidado de esclarecer que não são veganos intersectoriais, ou do âmbito da ‘justiça social’.Ou seja, não é como se houvesse uma filosofia vegana unida que estivesse inerentemente fundida com o Marxismo ou algo do género.
Em segundo lugar, o veganismo ético é deveras criticado por muita gente da esquerda radical. Por isso, não é como se fossem uma combinação fabricada no céu. Aqui fica um post de um blog com 10 objeções frequentes que os socialistas e os anarquistas tendem a fazer ao veganismo (e também algumas respostas muito boas).
Um dos problemas que as pessoas de esquerda costumam ter com o veganismo, tem a ver com o facto de os veganos fazerem escolhas, em termos de consumo, que contribuem para que a mudança ocorra. Alguns progressistas veem isso como um reforço ao capitalismo (vê a seção acima sobre o veganismo e o capitalismo), por isso se opõem.
Definitivamente, há muitos veganos que apoiam os partidos e políticos mais conservadores. Ao mesmo tempo que existem muitos outros apolíticos ou moderados. Até entre os muitos que são liberais, grande parte tem a mente aberta e com certeza que aceitaria os pontos de vista de outros veganos.
Como tal, independentemente do que sintas, existem veganos conservadores, tal como existem veganos capitalistas e veganos socialistas ou mais à esquerda.
18. Os veganos apoiam a PETA e outras organizações dos direitos animais controversas
A organização estadunidense PETA leva a cabo várias ações controversas. Transmitem anúncios obscenos do Super Bowl. Encenam exposições provocadoras. Fixam outdours com mensagens que são potencialmente ofensivas.
Os veganos apoiam a PETA? Alguns sim, obviamente. Mas outros não. Muitos veganos, por sua vez, apoiam algumas coisas que a PETA faz e outras não.
A PETA é uma organização enorme. É possível que o seu alcance e orçamento sejam maiores do que qualquer outra organização que promova ativamente o veganismo. Consequentemente, é natural que apresentem impactos positivos.
Todavia, a PETA está exclusivamente focada nas questões do bem-estar animal. Daí que, os veganos que desejem uma transformação mais ampla da sociedade, nem sempre fiquem satisfeitos com as abordagens das campanhas da PETA.
Ativistas do antirracismo assinalam o facto de que quando a PETA compara a indústria agropecuária à escravidão dos negros nos EUA, o seu objetivo é recorrer à história e ao sofrimento dos negros para promover a sua própria causa. A PETA também efetua comparações entre a indústria agropecuária e o Holocausto e tal causa alguma controvérsia entre algumas pessoas.
Na verdade, existe um blog intitulado Vegans Against PETA [Veganos contra a PETA]. Não está ativo desde 2010, mas, como artefacto, ilustra a ideia de que efetivamente muito veganos não são apoiantes espontâneos da PETA, ou de quaisquer outras organizações mais controversas que defendem os direitos dos animais.
Porque é que estes estereótipos e mitos subsistem?
Na perspetiva do autor, estes mitos e estereótipos em relação aos veganos existem pelas seguintes razões:
– A maioria das pessoas não conhece muitos veganos reais. Logo, as histórias da internet, jornais ou de boca em boca acabam por ganhar mais relevância do que as experiências com veganos na vida real.
– Os veganos mais controversos recebem mais atenção. E os críticos do veganismo também. Isto significa que, observando à distância, vais ver mais veganos extremistas do que moderados. É o viés da seleção.
– As pessoas preferem suprimir os argumentos veganos. As pessoas veganas podem ser ameaçadoras (e irritantes) para aquelas que comem carne, uma vez que, basicamente, parecem estar a acusá-las de estarem a ser eticamente incorretas ao comerem animais. E isso suscita culpa. Por conseguinte, muitas preferem formar uma visão estereotipada dos veganos.
– As histórias de pessoas veganas com deficiência, magras ou extremistas são as mais comentadas, porque as pessoas querem acreditar na tese de que os veganos são pretensiosos, etc. Isto pode ser especialmente verdadeiro para aquelas pessoas que viveram situações genuinamente más com veganos irritantes ou que as assediam.
– Os interesses das corporações têm uma influência prejudicial ao veganismo. Questão: Quem lucra quando as pessoas pensam que os veganos são malucos ou doentes? Resposta: as indústrias da carne, dos laticínios e dos ovos. É muitas vezes certo que a desinformação surja propositadamente por isso.
– O viés de confirmação é perpetuador. Logo que penses que estes estereótipos são verdadeiros, vais procurar confirmá-los. Depois, tomas cada exemplo como prova de uma tendência geral, independentemente desta tendência realmente existir ou não.
A verdade: Os Veganos existem em vários formas e feitios
Para concluir: Existem milhões de pessoas veganas em todo o mundo, motivadas por muitas razões distintas para seguirem este estilo de vida. Somos todos diferentes.
Embora possa haver algum fundo de verdade interessante por detrás de muitos destes estereótipos, de modo algum eles representam todos os veganos – e muitos estão longe da realidade!
- Artigo adaptado do blog i am going vegan, por Ana Luísa Pereira
- Kombucha é uma bebida de origem chinesa com sabor semelhante ao da sidra.
- Este artigo está publicado no sítio ‘I am going vegan’, cujo editor e autor principal é Tyler McFarlan.
- Este artigo foi escrito antes do surgimento da pandemia pelo Covid 19.
- “Virtue-signaling” – [sinalização de virtude] é um neologismo cujo significado está associado à demonstração de virtudes através de palavras ou atos que se querem partilhar nas redes sociais. Encontra mais informação aqui, por exemplo.
- O consumerismo distingue-se do consumismo pelo modo teoricamente mais racional de consumir do primeiro. Este conceito integra a ideia de fazer escolhas em função das consequências ao nível ambiental, cultural e social.