O Aquatic Life Institute (Instituto da Vida Aquática) fez recomendações relacionadas ao bem-estar, nomeadamente sobre problemas encontrados na aquicultura. Pela primeira vez, o Aquatic Life Institute define o bem-estar dos animais aquáticos, respondendo a questões pertinentes sobre a sua qualidade de vida e pondo fim à questão: “Os peixes sentem dor?”. Uma pista: Sim, sentem.
De acordo com o instituto, o bem-estar dos animais aquáticos é um assunto “altamente negligenciado”. Aproximadamente 100 biliões de criaturas marinhas são criadas em viveiros anualmente, que experienciam o que o instituto se refere a condições de “grande sofrimento”.
Ao definir claramente o que é o bem-estar dos animais aquáticos, o instituto visa melhorar a qualidade de vida dos animais de aquicultura. O ALI está atualmente a conduzir pesquisas nesta área e formou a primeira coligação para o bem-estar de animais aquáticos, a Aquatic Animal Alliance (Aliança de Animais Aquáticos), do qual fazem parte 14 membros.
Esta coligação tem-se focado em regimes de certificação pelo mundo, tal como a GLOBALG.A.P. — um programa de garantia de qualidade agrícola— para impulsionar a inclusão e futuras melhorias nos padrões do bem-estar dos animais aquáticos.
“Os nossos membros iniciais (Compassion in World Farming, The Humane League, Fish Welfare Initiative, Eurogroup for Animals, Mercy for Animals, Animal Equality e Dyrevernalliansen) constituíram o grupo principal ao fornecerem o nosso feedback a vários programas de certificação”, disse o fundador do ALI, William Bench.
Os peixes sentem dor?
Um grande número de especialistas confirmam que os peixes sentem dor, incluindo a professora Victoria Braithwaite, autora da obra “Do Fish Feel Pain?” de 2010. Outros estudos indicam que, tal como os animais terrestres, as criaturas aquáticas são sencientes, fazem amizades e experienciam emoções positivas.
Bench disse que as principais questões de bem-estar na aquicultura incluem falta de enriquecimento ambiental, alimentação inapropriada, falta de espaço, má qualidade de água e atordoamento ineficaz antes do abate. Em suma, problemas comparáveis aos encontrados na pecuária de grande escala.
O guia do instituto com recomendações para o bem-estar dos animais aquáticos de aquicultura sublinha cinco indicadores principais de bem-estar que visam essas questões. O ALI desenvolveu estes pontos através de consulta com outros especialistas globais da área.
Estas recomendações incluem liberdade de acesso a alimento, liberdade para viver num ambiente apropriado que permita o bem-estar, liberdade para viver sem o risco de doenças e lesões, liberdade para ter espaço e companheirismo — para ter comportamentos naturais — bem como liberdade para viver em condições que garantam uma boa saúde psicológica.
A aquicultura é melhor do que a sobrepesca?
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura relata que a aquicultura é o setor com o crescimento mais rápido da produção alimentar. Atualmente, corresponde a 50% do peixe consumido. A nível mundial, a indústria cria aproximadamente 580 espécies aquáticas diferentes.
Para além das preocupações relacionadas com o bem-estar, estudos também mostraram que alguns peixes de aquicultura contêm uma maior quantidade de substâncias tóxicas, tanto naturais como de origem humana, como antibióticos, pesticidas e outros poluentes.
Alguns vêem a aquicultura como uma solução para o custo ambiental da sobrepesca. Mas Bench explica que a indústria também usa mais do que 50% de todos os peixes capturados para alimentar peixes cultivados em aquicultura. Segundo o ALI, os humanos matam entre dois a três triliões de animais aquáticos na natureza a cada ano, o que tem um impacto significativo no ambiente marinho.
“A aquicultura impacta diretamente na conservação de peixe selvagem” disse ele. “A falta de consideração com o bem-estar na pesca de captura leva invariavelmente a maiores taxas de mortalidade e a ineficiências, empobrecendo populações de peixes ainda mais”.
A Coligação para a Conservação Aquática do ALI visa unir defensores de animais aquáticos selvagens de viveiros juntamente com outros grupos de proteção ambiental para promover cooperação e mais diálogo. Bench disse que os critérios para o bem-estar ambiental representam uma “grande vitória para animais aquáticos de aquicultura”.
Artigo original: LiveKindly
Tradução: Ana Lúcia