Vivemos lado a lado com outros animais desde que existimos como humanos. O nosso passado e futuro estão intrinsecamente ligados com os de outros animais, seja nas nossas casas, no meio selvagem, ou mesmo nos nossos pratos.
Uma das formas mais marcantes de intersecção das nossas vidas com os animais é através das zoonoses – doenças transmitidas dos animais para os seres humanos. Como o surto da COVID-19 de 2019/2020 realçou, as zoonoses são um assunto sério. Têm o poder de paralisar as economias e atividades globais e custam muitos milhares ou mesmo milhões de vidas.
Neste artigo vamos analisar a origem das zoonoses, porque ocorrem, e como podemos viver mais harmoniosamente com os animais de forma a travar as zoonoses antes sequer de elas começarem.
Conheça os Animais
É difícil falar de zoonoses sem falar dos animais que transmitem doenças. Ao ler sobre as diferentes categorias de animais abaixo, pedimos-lhe que se posicione numa perspetiva mais empática. É importante lembrar que é o nosso ato de confinamento de animais que exacerba o risco de zoonoses. Os animais individuais que compõem estas categorias não são vilões, não propagam doenças intencionalmente e não criam vírus. De facto, em muitos casos, eles podem ser tão afectados pelos vírus que hospedam como nós.
As nossas relações com as diferentes categorias de animais acima enumeradas variam. O mesmo pode acontecer com as nossas atitudes. Os tópicos relacionados com a saúde humana e as doenças são profundamente pessoais e o leque de opiniões sobre eles reflete precisamente isso. Agora, vamos atentar na investigação da opinião pública sobre zoonoses, mais especificamente no caso da COVID-19.
Compreensão do Público
Pode parecer disparatado discutir atitudes das pessoas em relação às zoonoses, pois é difícil imaginar que alguém tomaria uma posição pró-zoonótica. No entanto, considerando o volume de desinformação que circula nos media, há uma variedade de opiniões que as pessoas têm sobre as zoonoses e sobre como devemos lidar com elas. Nos gráficos e quadros abaixo, foi analisado especificamente o espectro de opiniões relacionadas com a COVID-19. Como verá, as opiniões vão desde fomentadas e prudentes até mal informadas e imprudentes.
A Prevalência da Desinformação
Como parte da sua sondagem, a Faunalytics colocou a seguinte questão: “O mundo está atualmente a combater uma pandemia devido ao novo coronavírus (COVID-19). Explique por favor a sua compreensão sobre a origem desta doença. Não estamos a perguntar sobre a cidade ou país onde ela começou, mas sim as circunstâncias que levaram à doença”. Eis as respostas das pessoas:
As respostas a esta pergunta em aberto parecem mostrar que muitas pessoas compreendem que os “animais” foram a origem da doença. O alarmante é que uma proporção substancial dessas respostas também recaí sobre os temas “deliberadamente criados” e/ou “China” – uma proporção substancial incluiu comentários racistas e/ou suspeitas sobre a criação intencional do vírus pela China. Quase um em cada dez inquiridos mencionou teorias de que a COVID-19 foi criada deliberadamente, implicando a China (por exemplo, “laboratório na China”), embora algumas não fossem específicas quanto à origem (por exemplo, “guerra bacteriológica” ou “fabricada pelo homem”).
Agricultura Intensiva
Na secção anterior, poderia ter-se rido da ideia de alguém tomar uma posição “pró-zoonótica”. No entanto é possível argumentar que, como sociedade em geral, agimos todos os dias em apoio das zoonoses, porque o maior culpado da sua criação é a agricultura intensiva.
Embora seja por vezes referida como “agricultura industrial”, é importante saber que a agricultura intensiva nem sempre se parece com as explorações industriais que vimos em vídeos filmados secretamente – pode parecer um pouco diferente, dependendo da região onde ocorre. No entanto, em todos os casos, o que torna a agricultura animal “intensiva” é o confinamento rigoroso e próximo dos animais
Quer se trate de galinhas amontoadas em gaiolas tão pequenas que não conseguem abrir as asas ou porcos dispostos em jaulas tão apertadas que nem sequer se podem virar, os cientistas há anos que fazem alertam que estes sistemas são o terreno ideal para a criação de zoonoses. Mesmo sistemas “menos intensivos” como sistemas de criação ao “ar livre” para galinhas poedeiras colocam dezenas de milhares de animais sob o mesmo tecto, criando também as condições em que um vírus poderia facilmente sofrer mutações, propagar-se, e fazer o salto para os humanos.
_________________
Fonte: Faunalytics
Tradução por Marlene Carvalho