Por David Wolpe | 6 de Julho de 2015
David Wolpe é o Rabino Sénior Max Webb do Templo Sinai, em Los Angeles.Eu tinha 20 anos e estava a trabalhar numa campanha política quando visitei pela primeira vez um matadouro. Lá, vi galinhas mortas a balançarem, como acrobatas pálidos, numa correia transportadora suspensa sobre um recipiente, e conheci um homem que se autonomeava, com apenas uma pitada de ironia, de “raspador de gosma.” Saí com a vaga ideia de que eu, um dia, poderia tornar-me vegetariano.
Anos mais tarde, parei de comer carne e frango. Em raras ocasiões, eu ainda como peixe, mas isso torna-se cada vez menos comum com o passar dos anos. Eu não sou um evangelista dos vegetais; eu coexisto feliz com membros carnívoros da minha família e tenho amigos que prestam culto no santuário da vaca cozida. Mas permitam-me que desminta três mitos sobre os vegetarianos, em nome de todos aqueles que, como eu, preferem os feijões ao bife.
1. Os vegetarianos acham-se moralmente superiores. Amigos, achar-se moralmente superior é uma qualidade universal. Sejam quais forem os hábitos que as pessoas prezam, elas tendem a discutir em termos morais. Portanto sim, alguns vegetarianos acabam por achar-se moralmente superiores, mas já ouviram caçadores a defender o seu hobby? Ou comedores de carne a falar sobre o design do corpo humano, sistema digestivo e manifestas vantagens evolutivas? Eu tive pessoas a dizerem-me que não podem ser vegetarianas porque são grandes apreciadores de comida (1), com o mesmo orgulho de quem está a anunciar que é um trabalhador humanitário no Congo.
Achar-se moralmente superior é mais um traço de personalidade do que um acompanhamento de uma posição política ou social. E às vezes a própria acusação é uma espécie do mesmo mal: “Oh, ela acha-se TÃO moralmente superior; Eu não SUPORTO pessoas que são assim. É simplesmente errado.” Bem, sim, pois é.
2. Os vegetarianos não são saudáveis. Sim, eu conheci vegetarianos com uma fraca saúde. Mas pode-se ser tão saudável seguindo uma dieta vegetariana como seguindo qualquer outra. Alguém próximo de mim disse-me que, quando se tornou vegetariana, o seu pai, um médico, disse que ela estaria morta dentro de um ano. Décadas mais tarde, a sua previsão parece cada vez mais duvidosa.
Não vou entrar numa discussão sobre aditivos na carne, pesticidas, disputas sobre “biológico” e no interminável buraco do coelho do aconselhamento dietético e nutricional. Mas, por favor, não vamos assumir que todos os vegetarianos são doentes mais do que devemos assumir que todos os comedores de carne são saudáveis. Num país onde a obesidade é uma grande ameaça à saúde, grandes pratos cheios de brócolos não são o principal culpado.
3. Comida vegetariana não tem sabor. OK, talvez não gostes de tofu (eu gosto, e ele pode ser preparado de maneiras quase infinitas). Mas boa cozinha vegetariana ou vegana é maravilhosa, assim como boa cozinha de todos os tipos. Actualmente há excelentes restaurantes vegetarianos em todo o país onde podes testar a verdade dessa afirmação. E há opções vegetarianas na maioria dos outros restaurantes, também. Afinal, penne all’arrabbiata e tacos de feijão são vegetarianos. O gosto na comida, como em qualquer outra coisa, ajusta-se ao longo do tempo, e chegamos a apreciar nuances nos alimentos tal como fazemos na música.
Isto não é um manifesto de verão para a mudança. Eu não espero que, de repente, o Homer Simpson vá começar a virar bifes de seitan no seu churrasco. Mas a crueldade com que a maioria dos animais são criados e as exigências em recursos que a produção de carne faz da Terra são questões genuínas e não devem ser simplesmente descartadas. No mínimo, vamos admitir que o vegetarianismo é uma opção digna e reflectida e fazer um brinde (vinho = uvas = fruto) à majestade das plantas. Ou, como um amigo meu diz, um brinde à alimentação que não envolve comer coisas que têm um rosto.
Tradução: Luís Campos
Original:http://time.com/3947166/what-meat-eaters-get-wrong-about-vegetarians/
Traduzido com permissão do autor
(1) Do inglês “foodies”