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Produtos biológicos de base vegetal são + de 60% das compras alimentares de 1/3 dos veggies, em Portugal

Os consumidores veggie parecem apresentar uma elevada quota de consumo de alimentos biológicos, segundo análise. Mostrando-se que os produtos biológicos desempenham um papel importante para os consumidores que privilegiam e se interessam por uma dieta de base vegetal.

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Tendo por base dois estudos anteriormente feitos, em 2019 e 2021, assentes em respostas de consumidores dinamarqueses, já seria do conhecimento da Sociedade Vegetariana da Dinamarca (Dansk Vegetarisk Forening, DVF) a existência de uma forte preferência pela compra de alimentos biológicos entre os consumidores flexitarianos, vegetarianos e veganos, na Dinamarca. 

A partir daí, a DVF levantou a hipótese de que tal padrão de procura também poderia ser encontrado noutros países europeus.

Para comprovar tal cenário, avançou com um novo estudo que procurou analisar a procura por alimentos biológicos de base vegetal, em diferentes mercados na Europa, em colaboração com a organização sem fins lucrativos Organic Denmark (“Dinamarca Biológica”), numa sinergia que se designa Danish Center for a Plant-Based & Organic Future (“Centro Dinamarquês para um Futuro Biológico & De Base Vegetal”).

A Associação Vegetariana Portuguesa (AVP) associou-se a este projeto, tendo ficado responsável pela partilha do inquérito, sobre o tema, entre os consumidores portugueses, procurando, assim, recolher respostas acerca das preferências dos seus seguidores, tendencialmente caracterizados por se identificarem como veggie (grupo composto por veganos, vegetarianos e flexitarianos), relativamente ao consumo de alimentos biológicos de base vegetal.

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O inquérito foi, igualmente, partilhado noutros países europeus, em cooperação com organizações locais respetivas, tendo sido possível, desta forma, a obtenção de uma comparação entre quatro países: França, Países Baixos, Alemanha e Portugal. Foram, assim, realizados quatro estudos com segmentos deliberadamente seletivos de flexitarianos, vegetarianos e veganos (não sendo representativos da população em geral). 

Não obstante, como este inquérito se centra no consumo de alimentos de base vegetal, os consumidores veggies podem ser vistos como um grupo-alvo já que é de esperar que, por si só, tenham substancial peso no que toca à compra de alimentos de base vegetal, por parte dos consumidores, em geral.

Os veggies, em Portugal, consomem (muitos) produtos biológicos de base vegetal?

No que diz respeito a Portugal, o inquérito recolheu 539 respostas, provenientes de uma amostra composta por consumidores distribuídos da seguinte forma:  30% dos inquiridos identificaram-se como vegan (estritamente vegetarianos, que não consomem qualquer produto de origem animal), 27% como vegetarianos (ovolactovegetarianos, lactovegetarianos ou ovovegetarianos) e 16% como piscitarianos (que consomem produtos vegetarianos e peixe), sendo que 18% indicaram que consomem carne ou peixe 2 a 3 vezes por semana e 9% fazem-no mais de 4 vezes por semana. 

A análise debruçou-se nos inquiridos considerados veggie (ou seja, os vegan, vegetarianos e flexitarianos e excluindo os que consomem carne ou peixe mais de 4 vezes por semana), que representaram 494 respostas, por sua vez distribuídas da seguinte forma, em termos de género e idade: 84% mulheres, 15% homens e 1% não-binário, sendo que 46% indicaram ter entre 13 e 34 anos e entre 35 e 55 anos, com 8% dos inquiridos a apresentarem idades acima de 55.

A análise mostra que, em Portugal, os consumidores veggies inquiridos apresentam uma elevada quota de consumo de alimentos biológicos. Aproximadamente, um terço destes (33%) afirmam que cerca de 60% a 100% do seu cabaz alimentar é composto por alimentos biológicos, enquanto menos de 25% apresentam uma percentagem de alimentos biológicos entre 40% a 59% e menos de 20% uma percentagem de 20% a 39%. 

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Estes valores são semelhantes aos dos Países Baixos, onde 33% dos consumidores veggies ocupam 60% a 100% do seu cabaz alimentar com alimentos biológicos, mais do que os inquiridos na Alemanha, onde apenas 26% dos consumidores analisados têm a mesma percentagem de alimentos biológicos no seu cabaz. França, por sua vez, tem a maior percentagem de inquiridos a consumirem alimentos biológicos nestas proporções: são quase 2/3 (64%).

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O facto deste número ser elevado em Portugal mostra que os produtos biológicos desempenham um papel importante para os consumidores que privilegiam e se interessam por uma dieta de base vegetal, quando estão a realizar as suas compras alimentares. Assim, é importante que a opção biológica possa ser encontrada, esteja disponível em todas as categorias de alimentos, e seja mais acessível em termos de preço, nos diversos pontos de venda do país.

E o preço? Maior disposição para pagar mais pelos produtos biológicos?

No geral, 37% e 32% da amostra de consumidores portugueses inquiridos estão dispostos a pagar até 10% e entre 11 a 20% a mais por produtos biológicos, respetivamente, enquanto apenas 10% dos consumidores não estão dispostos a pagar mais por estes. Ainda assim, a percentagem de consumidores que não está disposta a pagar um valor superior contrasta com a dos outros países analisados: nos Países Baixos, a percentagem é de 7%, em França, é de 6% e, na Alemanha, apenas 1% dos inquiridos não estão dispostos a pagar um valor mais alto por um produto que seja biológico. 

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Quais as motivações?

Os principais motivos que levam os consumidores veggies a comprarem produtos biológicos, em Portugal, são, segundo apontam, o facto de “a produção biológica proteger a natureza, o meio ambiente e as águas subterrâneas” (43%), porque contribuem, desta forma, para “evitar pesticidas” (42%) e porque os produtos biológicos envolvem um maior “cuidado” na sua produção (15%).

O questionário permitiu também perceber os motivos que levaram os inquiridos a  escolher comer da forma como o fazem. As preocupações com “clima/meio ambiente/sustentabilidade” (63%) são o principal motivo que leva as pessoas a identificarem-se como flexitarianas (que consomem carne ou peixe raramente/esporadicamente), seguido por “saúde” (61%) e “ética animal” (56%). Para as pessoas que seguem uma alimentação vegetariana, as razões distribuem-se pelas questões de “ética animal” (90%), seguida de ‘“clima/ambiente/sustentabilidade” (77%) e ‘saúde’ (63%), enquanto que aqueles que se identificam como vegan, referem, como motivação para tal, a“ética animal” (96%), seguindo-se o “clima/meio ambiente/sustentabilidade” (75%) e a “saúde” (64%). 

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A rotulagem e a certificação são importantes?

Cerca de 74% a 85% dos consumidores inquiridos assinalam que um esquema de rotulagem/certificação nacional e europeu (isto é, um selo que permita, de forma comprovada, identificar que um produto é vegetariano, vegano, biológico ou produzido em Portugal ou na Europa ) é “muito importante” ou “importante”.

Analisando esta questão em detalhe na amostra, grande parte dos vegetarianos (89%) acreditam que um esquema de rotulagem vegetariana é “muito importante” ou “importante”. Para os participantes flexitarianos, este valor é de 72%, e de 65%, no caso dos inquiridos que se identificam como vegan. As percentagens de consumidores que consideram que um esquema de rotulagem vegetariana é ‘menos importante’ ou ‘não é importante’ situam-se entre 1% e 13%, sendo os inquiridos vegan os que menos importância dão à rotulagem vegetariana (4% consideram “pouco importante” e 13% “não importante”).

97% dos veganos afirmam considerar um rótulo vegan oficial ‘muito importante’ ou ‘importante’. Para os flexitarianos e vegetarianos, esse número é de 66% e 85%, respetivamente. No geral, os valores para os respondentes que pensam que é ‘menos importante’ ou ‘não importante’ está entre 7 e 14%.

Já no que diz respeito ao esquema nacional de rotulagem de produtos orgânicos/biológicos, 81% dos inquiridos flexitarianos e veganos indicam que é ‘muito importante’ ou ‘importante’, enquanto que, no caso dos vegetarianos, a percentagem é de 85%. Apenas 1% a 5%, no total, consideram “menos importante” ou “não importante”.

Em relação ao esquema europeu de rotulagem orgânica/biológica, 76% dos inquiridos, que se revêem como flexitarianos, defendem que é ‘muito importante’ ou ‘importante’, enquanto que para os vegetarianos ou veganos, as percentagens são de 79% e 74%, respetivamente.

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A rotulagem pode, deste modo, constituir um importante determinante a ser considerado pelas empresas e marcas, em Portugal, para efeitos de captação de consumidores (transmite segurança e transparência), sendo este o país (de entre os analisados) onde os consumidores da amostra dão mais importância à existência de um esquema de rotulagem nacional e europeu (entre 65% a 97%). 

Diversidade dos produtos biológicos

Para se obter uma visão sobre a satisfação, ou falta desta, entre a amostra de inquiridos (composta por consumidores veggies), em relação à variedade de alimentos biológicos, em geral, e alimentos biológicos que, em concreto, são de base vegetal, questionou-se sobre uma ampla gama de categorias de produtos.

Os consumidores inquiridos estão menos satisfeitos com a variedade de pães e bolos biológicos de base vegetal (30-36%), produtos biológicos processados que correspondem a alternativas à carne (29-42%), toppings biológicos de base vegetal (19-28%) e no que toca às refeições prontas biológicas e de base vegetal (13-22%).

Além disso, entre 28 a 40% dos segmentos inquiridos afirmam que nunca compram toppings biológicos de base vegetal, enquanto que essa percentagem chega a estar entre os 43% e 51% para refeições prontas biológicas e de base vegetal. 

Uma possível explicação para o facto dos inquiridos, em Portugal, afirmarem que não optam, com frequência, pela compra destes alimentos pode ser devido à quase inexistência dos mesmos, podendo-se aferir que, atualmente, a disponibilidade de refeições de base vegetal e biológicas não é considerável. Outra possibilidade prende-se com o facto da cultura alimentar em Portugal ser diferente da dos restantes países europeus inquiridos, onde a adesão ao take-away, por exemplo, é mais predominante. Admite-se ainda que a formulação do questionário possa não ter captado adequadamente essas categorias de produtos.

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Acredita-se que quanto mais difundidos forem os produtos de origem vegetal, mais os consumidores exigirão uma qualidade superior, o que se pode refletir, entre outros aspetos, no grau de processamento dos produtos. Como forma de avaliar isto, foram colocadas outras questões aos consumidores inquiridos, nomeadamente acerca do quão importante é que os alimentos processados de base vegetal sejam tão naturais e tão pouco processados quanto possível.

95% do total dos consumidores inquiridos, em Portugal, consideram “muito importante” ou “importante” que os alimentos de base vegetal sejam tão naturais e tão pouco processados quanto possível. O nível de importância atribuído a este aspeto reflete-se em todos os segmentos (flexitarianos, vegetarianos e veganos), que compuseram a amostra inquirida de consumidores veggies, em Portugal.

Mais de 70% dos consumidores inquiridos afirmam que “quase nunca” ou “nunca” compram em supermercados discount e o mesmo se aplica a compras nas lojas online dos supermercados. Também mais de 70% compram semanalmente em supermercados e cerca de 60% optam por lojas especializadas numa periodicidade que varia entre semanal ou mensal. Na presente pesquisa, não há diferenças significativas entre os diferentes segmentos de consumidores veggies inquiridos, ao nível dos locais e da frequência com que realizam  as suas compras.

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O estudo

A recolha de dados foi realizada em colaboração com a Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), tendo como público-alvo um grupo de inquiridos tendencialmente mais interessado na alimentação de base vegetal, localizado em Portugal, no período de 25 de julho a 22 de agosto de 2022. De realçar que, como o inquérito foi realizado junto de consumidores que seguem ou se interessam pelo trabalho da AVP, a amostra é, provavelmente, constituída por consumidores com elevado compromisso em relação à alimentação de base vegetal, pelo que deve ser tido em conta este universo e facto de tal poder constituir um enviesamento aos resultados do inquérito, que, desta forma, não refletem a tendência da população em geral.

Não obstante, mesmo considerando este nicho, é possível constatar acerca do potencial de crescimento da oferta, em termos de produção biológica em Portugal, e como existe oportunidade de mercado para comercialização neste âmbito. 

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