Uma mudança de paradigma na alimentação dos portugueses
Outrora considerada como uma noção um tanto marginal, a ideia de eliminar ou reduzir produtos de origem animal das nossas dietas alimentares tem vindo a tornar-se cada vez mais estabelecida na sociedade.
Este novo paradigma alimentar faz com que seja cada vez mais notória a procura por alternativas alimentares de origem vegetal por parte da população portuguesa. Constata-se o aumento, entre 2018 e 2022, da importância das refeições de base vegetal, tendo-se verificado um ligeiro incremento na média semanal de refeições sem carne nem peixe, de 1,95 para 2,23.
Este tipo de alimentação tem ganho cada vez mais adeptos nos últimos anos, e o número de pessoas que tem uma alimentação que privilegia alimentos de base vegetal corresponde a cerca de 12% da população portuguesa, contribuindo para o aumento da procura de produtos sem ingredientes de origem animal no mercado.
Um ranking das lojas de retalho alimentar portuguesas que melhor se posicionam em torno da oferta vegana
Como surgiu o RankingVeg?
Faltava perceber melhor como é que o sector do retalho alimentar (i.e. supermercados, hipermercados) se posiciona em relação a este segmento de produtos, e qual a percepção dos consumidores sobre a oferta, pelo que realizar-se um estudo a nível nacional revelou-se imprescindível.
Assim nasceu o projecto RankingVeg, criado pela Associação Vegetariana Portuguesa, em parceria com a organização alemã Albert Schweitzer Foundation, a qual desenvolveu e disponibilizou uma ferramenta padronizada para classificar os retalhistas alimentares com base na sua oferta de produtos veganos.
Esta metodologia, que já foi aplicada em diversos países europeus, oferece a possibilidade de melhor informar os consumidores sobre a oferta vegana disponível nos supermercados, e em simultâneo permite às empresas neste sector conhecerem o seu posicionamento no mercado, para que assim possam ajustar a sua oferta e ir ao encontro das necessidades dos consumidores.
Como foi feito o estudo?
Os retalhistas incluídos, as localidades e os critérios de avaliação
As cadeias de lojas de retalho alimentar consideradas para este ranking foram: Aldi, Auchan, Continente, Continente Modelo, Lidl, Minipreço, MyAuchan e Pingo Doce.
A escolha destes retalhistas baseou-se no facto de estarem entre os mais bem representados em território nacional, com lojas espalhadas de norte a sul do país, estando igualmente presentes nas localidades selecionadas, que, conforme indicado, se caracterizam por terem uma densidade populacional relevante para o levantamento de dados.
A Associação Vegetariana Portuguesa contou com o apoio de 32 colaboradores, que visitaram, individualmente ou em equipas de duas ou de três pessoas, um total de 40 lojas (5 lojas por cada marca), utilizando processos uniformes de recolha de dados.
Para efeito de classificação dos retalhistas, foram tidos em conta os seguintes factores de cálculo:
Variedade de produtos veganos disponíveis, dentro das categorias relevantes (por exemplo, alternativas à carne, ao leite, e aos ovos)
Atividades de marketing e promoção relacionadas com produtos veganos
Certificação por entidade independente dos produtos veganos (tanto de marcas próprias como de marcas de outro fabricante).
Os Resultados (2023)
O Auchan destacou-se na avaliação global que, para além da variedade de produtos veganos, tem também em consideração as ações de marketing e a certificação vegana por entidades independentes. A cadeia francesa destacou-se na variedade de alternativas de base vegetal à carne, às carnes fumadas e ao peixe.
No entanto, o Continente é o hipermercado que evidencia uma maior variedade de produtos veganos em mais categorias alimentares, nomeadamente nas alternativas de base vegetal aos laticínios e refeições veganas prontas a consumir (ou pré-confecionadas).
Por sua vez, o Pingo Doce é o retalhista que mais empenho tem demonstrado com estratégias de marketing que promovem os produtos veganos. Sendo que o Aldi e Lidl lideram na certificação vegana independente, reforçando o compromisso com transparência e autenticidade.
Comparativamente à primeira edição do estudo, em 2021, existe um aumento generalizado na variedade de produtos veganos disponíveis no mercado português.
De maneira geral, foi possível constatar que a produção e comercialização de produtos veganos em Portugal encontra-se num estado ainda embrionário, comparativamente com outros países, e que existe espaço para um crescimento da oferta e para uma melhoria da mesma em termos de diversidade, qualidade e preço, com vista a atender às necessidades atuais de um nicho de mercado cada vez mais instituído.
1ª Edição do Estudo (2021)
Auchan e Aldi foram, em 2021, as empresas de retalho alimentar que lideravam a oferta de produtos veganos, de acordo com análise da Associação Vegetariana Portuguesa.
Paralelamente, em 2021 foi também feito um estudo da percepção do consumidor sobre esta oferta, com mais de 2.000 participantes, sendo que 51,7% indicou que seguia uma alimentação ovo-lacto-vegetariana ou estritamente vegetariana (vegana), e 30,3% considerou-se como flexitariano (incluem pontualmente produtos de origem animal na sua alimentação).