Sendo Portugal o maior consumidor de peixe na União Europeia per capita e o terceiro maior consumidor de peixe do mundo, é pertinente conhecermos as capacidades destes animais. Quanto mais informação houver, mais pessoas com compaixão pelos seus direitos haverá e mais aberto estará o caminho para as mudanças estruturais necessárias.
Vamos aprender mais sobre estes seres incríveis que são os peixes, mas que, no entanto, tanto consumimos nas nossas refeições?
Os peixes são mais inteligentes do que podem parecer
Centenas de estudos mostraram que estes animais são inteligentes, conseguem utilizar ferramentas, têm memória a longo prazo e estruturas sociais sofisticadas.
Memória
“Uma espécie de peixe aprendeu a escapar de uma rede e lembrou-se de como o fez depois de 11 meses. Isso é o equivalente a um ser humano se lembrar de uma aprendizagem depois de 40 anos”, continua Brown.
Afinal os peixes não têm uma memória de 3 segundos, ao contrário do que se acredita.
Aprendizagem por observação
Se um peixe observar um “vizinho” a alimentar-se na superfície, provavelmente irá procurar alimento no mesmo lugar. Para além disso, os peixes também conseguem aprender através de vídeos de outros peixes e imitar o seu comportamento.
Transmissão Cultural
Os peixes também têm tradições e passam conhecimentos e costumes de geração em geração. Biólogos, como Brown, pensam que o ser humano estará a destruir comunidades de bacalhaus devido à pesca em grande escala, naturalmente impedido tal transmissão de conhecimentos.
E os consumidores em Portugal estão entre os responsáveis. Segundo o Observatório Europeu do Mercado da Pesca e Aquicultura (EUMOFA), em 2020, o consumo nacional de peixe foi estimado em 57,67 kg per capita, sendo o bacalhau, de longe, a espécie mais consumida.
Peixes de grande porte como estes são os que têm mais conhecimentos a passar e, ao capturá-los sem limites, os seus rituais de migração estão a ficar desregulados e despadronizados.
Inteligência social
Os peixes também têm uma rede de família e de conhecidos. Se lhe dermos a escolher entre ir para um espaço com um grupo de peixes aleatórios ou com indivíduos que já tenham visto, eles escolhem as caras conhecidas.
Este reconhecimento é muito importante para eles, pois ajuda-os a perceber a posição de determinado peixe na sua hierarquia. Sim, os peixes têm grupos sociais complexos e hierárquicos!
Inteligência espacial
Outra área em que os peixes são tão bons como os animais terrestres. Em cativeiro, observou-se que, todas as manhãs e à mesma hora, os peixes se reuniam no local certo, prontos para serem alimentados. A isto se chama aprendizagem espaço-temporal. Em contexto selvagem também foi observado esta capacidade, onde se observou que, uma vez deslocados do seu local habitual, os peixes conseguem voltar ao lugar a que chamam casa.
Outras curiosidades sobre os peixes:
- Conseguem comunicar entre si através de sons de baixa frequência e até de gestos;
- Alguns mantêm “jardins” bem cuidados, cultivando algas e retirando os tipos de vegetação que não lhes agrada;
- Tal como os pássaros, muitos peixes constroem ninhos para criar as suas crias. Outros recolhem rochas para construir esconderijos;
- Conseguem usar ferramentas. Uma espécie (o bodião), por exemplo, foi visto a esmagar uma amêijoa contra uma rocha. Outra espécie (o peixe-pérola) utiliza conchas de ostras como colunas para amplificar o volume das suas vocalizações.
Os próximos passos
É fundamental a criação de legislações que tenham em conta a forma de tratamento dos peixes, havendo ainda muito caminho pela frente.
“Não consigo pensar numa forma de capturar peixe em alto mar, em massa, que responda à procura e que esteja perto dos padrões de ética, se considerarmos os peixes como os outros animais.”
Biólogo Brown
De facto, sabendo-se que os peixes são seres sencientes e dotados de uma sofisticada capacidade mental, a forma como são tratados tem de mudar.
A pesca excessiva é, na verdade, insustentável e responsável pela extinção de muitas espécies. Segundo a National Geographic, se o ritmo continuar, estima-se que em 2048 não existirão seres marinhos, a que muitos chamam de comida, nos oceanos e mares.
Referências: