Mas os vinhos não são naturalmente vegans? À partida, esta dúvida não parece fazer muito sentido. No entanto, a maioria das pessoas não tem noção de que a generalidade dos vinhos pode conter substâncias de origem animal. Neste artigo explicamos o porquê de um vinho poder não ser vegan, e que marcas portuguesas de vinhos vegan estão certificadas.
Um vinho pode não ser vegan? É verdade! Nesta indústria é bastante comum se recorrer, por exemplo, à adição de gelatinas de origem animal (como, por exemplo, a de porco) à cola de peixe ou à clara de ovo para que o processo de clarificação ocorra mais rapidamente.
O que é um vinho vegan?
À semelhança de todos os produtos alimentares (e outros), um vinho vegan é aquele cuja composição é livre de qualquer substância de origem animal. Nesta composição final, está implicado todo o processo de produção, desde o crescimento da vinha, à colheita, maturação, desengace e esmagamento, prensagem, fermentação, trasfega, clarificação e estabilização, amadurecimento e engarrafamento.
Ou seja, em momento algum deverá recorrer-se a qualquer matéria-prima que seja resultado da exploração ou morte de animais.
Como refere Hélder Cunha, enólogo, CEO e fundador da casa Casca Wines, “um vinho vegan é então um vinho no qual não houve qualquer produto enológico ou de filtração de origem animal que tenha sequer “tocado” a produção desse vinho”.
Ainda que possa parecer estranho, a verdade é que desde há séculos que se utilizam produtos de origem animal em alguma fase do processo.
Porque é que um vinho não é vegan?
Uma das possíveis respostas a esta questão está na fase de clarificação ou ‘purificação’ do vinho.
Como é sabido, o vinho resulta da fermentação do sumo de uva – o mosto. “Após a fermentação, o vinho está carregado de matéria em suspensão, que ocorre naturalmente da fermentação do mosto”, continua Hélder Cunha. Segundo o mesmo enólogo, depois do primeiro Inverno essa turvação tende a desaparecer, mas não totalmente, ficando uma espécie de neblina. É aqui que surge a etapa da clarificação: para eliminar esta ‘neblina’.
A clarificação consiste, então, na separação das partículas sólidas que persistem. Ou seja, é o processo de clarificar/filtrar o líquido, no qual se recorre, geralmente, à adição de proteína de origem animal. É o caso da albumina, muito presente na clara do ovo, a caseína (proteína do leite) ou até gelatinas que podem ter origem em peixe (ou porco). Deste modo, o processo decorre mais rapidamente.
Mas existem alternativas!
A produção do vinho vegan
“A produção de vinho vegan é igual ao do restante vinho, na maior parte das fases de produção”, segundo o enólogo Hélder Cunha. A grande diferença está na “fase em que o enólogo precisa de “limpar” o vinho da sua turvação natural e que para isso recorre a proteínas, mas também a minerais como a bentonite”.
São as proteínas que fazem toda a diferença! Se até há pouco tempo, as proteínas de origem vegetal não tinham qualidade para este efeito, hoje em dia já existem boas alternativas. As proteínas de origem em ervilhas deram um grande salto qualitativo e podem hoje ser uma óptima alternativa para se produzir vinho vegan.
Existem mais opções de matérias-primas vegan que podem ser usadas neste processo, nomeadamente recorrendo à pedra calcária, caulino e argilas, caseína de plantas, gel de sílica e placas vegetais, para dar alguns exemplos.
O enólogo Hélder Cunha assegura-nos que “a diferença entre o vinho convencional e o vinho vegan é, organolepticamente1 falando, nenhuma”. De facto, “o aspecto e sabor do vinho vegan é igual ao do vinho tradicional”.
Marcas portuguesas certificadas como vegan
Em Portugal já existem bastantes marcas de vinhos à venda que são aptas para veganos.
Para teres a certeza de que o vinho é vegan, o mais seguro é verificar se apresenta algum tipo de certificação independente. Por isso aconselhamos procurar pelo selo vegan no rótulo da garrafa. Os selos mais reconhecidos e confiáveis são os da V-Label e da Vegan Flower, ambos atribuídos por entidades independentes.
Em Portugal, o selo V-Label é atribuído pela Associação Vegetariana Portuguesa, e a certificação resulta de um processo minucioso de verificação e de auditoria, sendo que este selo é atribuído a nível global, não sendo, portanto, exclusivo do mercado português. As marcas portuguesas de vinhos com certificação podem ser consultadas aqui.
No Barnivore, directório de vinhos vegan friendly, é possível também se encontrar muitas marcas portuguesas e estrangeiras que são aptas para vegans.
Nem todas as marcas utilizam este selo, por isso, é importante conhecer os métodos de produção, em particular na fase da filtragem, na qual é necessário usar a proteína.
Aqui te deixamos algumas sugestões de marcas de vinhos Portuguesas que são certificadas como Vegan e em que podes confiar:
- Vinho Vegan | Casca Wines – Vinhos Portugueses
- Pouca Roupa: os novos vinhos vegan da João Portugal Ramos
- Mainova Branco | Verdelho
- Vinhos Indelével – Vinhos Vegan Alentejanos
1 Organolepticamente – este advérbio deriva da palavra organolépitco; termo que se refere às características percepcionadas pelos sentidos ao degustar e provar o vinho.